Encerrada oficialmente a greve dos caminhoneiros, ainda é virtualmente impossível avaliar a dimensão dos prejuízos para o país na sua totalidade, uma vez que alguns impactos ainda perduram pelos próximos dias. Mas já se pode aferir quais foram os mais atingidos. Na economia, o Agronegócio. Na vida pública do país, a maior vítima destes dias de paralisia foi, sem dúvida alguma, o Estado de Direito.
Levantamentos feitos nos últimos dez dias pela Agroconsult dão conta que as cadeias produtivas que mais conseqüências acumulam são as de aves, suínos, a bovinocultura, o leite, a soja e o trigo. No caso da soja, a produção colhida que não pôde ser despachada pelos portos de Santos (SP) e Rio Grande (RS) por falta de transporte, ameaça o país com processos internacionais por quebra de contratos, podendo levar à falência diversos frigoríficos do interior e causar uma onda de desemprego e perda de renda.
A reivindicação apresentada, sem dúvida, foi justa, e motivou o engajamento de produtores rurais em apoio aos caminhoneiros, o Sindicato Rural de São Gabriel e a Farsul inclusive. Todavia, a inépcia e falta de habilidade demonstrada pelo governo, cedendo quando era tarde e endurecendo quando não devia, expôs a fragilidade de um governo anêmico, o que acaba fazendo do nosso combalido Estado Democrático de Direito um terreno fértil para parasitismo e desestabilização. Apesar disso, ao final de toda esta convulsão social que quase instaurou a calamidade completa no país, o que resta é um amontoado de objetivos difusos e não atingidos.
Eu estava nos Estados Unidos quando a paralisação começou, conhecendo sistemas produtivos e a enorme eficiência daquele país. Com sua cultura empreendedora tão diferente da nossa, é um milagre que o agronegócio brasileiro consiga ser competitivo, e em algumas cadeias, superior ao americano, apesar do ambiente adverso. Lá, pude entender que uma das razões para a disparidade enorme entre nosso país e o deles advém de que eles resolveram um problema nosso, lá na sua origem, na Revolução Americana, que buscou a independência da Coroa Britânica baseado no lema de um pastor presbiteriano do século 18: “Nenhuma taxação sem representação”. Hoje, isso é uma pedra fundamental de todo o sistema americano de governo. Os impostos até não são dos mais leves do mundo, mas os americanos se sentem representados no seu sistema, e por isso pagam. Cá no nosso Brasil varonil, onde a carga tributária pesa sobre os ombros do caminhoneiro, do produtor, do lojista, na renda do trabalhador, o governo simplesmente foge de qualquer reforma tributária sob a alegação de que a União e muitos estados estão quebrados, por anos de gastança e roubalheira. E pior: não entrega quase nada de volta. Não há “representação”, em toda essa taxação. Que o diga o produtor às voltas com o Funrural.
É preciso agora fortalecer a vigilância para que as soluções se construam pela via democrática. Em cinco meses o país terá eleições, e enfim um governo eleito pela maioria da população poderá ter a autoridade moral necessária para as tarefas de reconstrução. Que esta experiência nos mostre que, na estrada que leva ao desenvolvimento, não se admitem atalhos. Nem bloqueios.
Tarso Francisco Pires Teixeira
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul