Novo Guia de Calagem pode mudar a realidade de Caçapava do Sul

Cotrisul Destaque Geral

Município pode ter onda de desenvolvimento a partir de publicação técnica agronômica

O que poderia acontecer com Caçapava do Sul se o produto que mais contribui com a arrecadação de impostos do município tivesse sua demanda dobrada ou triplicada? A pergunta, que parece ser apenas uma forma de instigar a imaginação, ganhou respaldo. De fato, a orientação agronômica para o uso do calcário agrícola foi alterada substancialmente.

A formalização dessa nova orientação veio com a publicação de um livro de pouco mais de 60 páginas, assinado pelo doutor em Ciência do Solo Jackson Fiorin e editado pela Rede Técnica Cooperativa (RTC). Trata-se do “Guia para recomendação de calagem e adubação – soja, milho, trigo e milho silagem”, apresentado durante a última edição da Expointer, em agosto.

Em setembro, o pesquisador esteve na 89ª Expofeira Agropecuária de Caçapava do Sul, onde apresentou suas conclusões aos produtores rurais e ofereceu uma capacitação aos técnicos e agrônomos ligados à Cotrisul e às empresas produtoras de calcário agrícola.

“A recomendação feita até agora estava baseada em trabalhos de 30 anos atrás, quando o máximo que se produzia eram 45 sacos de soja por hectare. Hoje, as produtividades potenciais são bem maiores e as cultivares são outras. Os estudos feitos pela RTC mostram que as doses devem ser pelo menos 3 vezes maiores, quando usadas no sistema de plantio direto e aplicadas na superfície”, detalhou Fiorin.

Para o engenheiro agrônomo João Batista Acunha, que representa a Cotrisul no Conselho Técnico de Grãos da CCGL, a adoção dos novos parâmetros pode impactar positivamente o município de duas formas. Por um lado, estaria o crescimento da produtividade média de lavouras e pastagens e o consequente aumento de renda para o produtor e de captação de grãos pela cooperativa. E, por outro, está o fato de que Caçapava do Sul é o polo produtor de calcário agrícola no Rio Grande do Sul.

Quem ajuda a traçar o impacto potencial no município é o diretor executivo do Sindicado das Indústrias de Calcário no Rio Grande do Sul (Sindicalc-RS), Roberto Zamberlan. Ele explica que não é possível fazer uma projeção direta dos números atuais de emprego e recolhimento de impostos gerados pelo setor.

Tanto porque a mudança da recomendação geral não significa a adesão imediata de todos os técnicos e agrônomos, quanto porque nem todos os produtores gaúchos podem ou querem chegar no nível ideal de uso do insumo.

Ainda assim, o município, que já responde por 85% do calcário agrícola consumido no Estado, deve perceber reflexos positivos à medida que a demanda vá crescendo. O setor atualmente responde por 51% do ICMS que retorna para a administração local e gera 10% dos empregos diretos e indiretos.

“A indústria do calcário em Caçapava do Sul produz entre 3,5 e 4 milhões de toneladas do produto ao ano, há três décadas. Nesse período, a área plantada com soja no Estado saiu de 2,5 milhões de hectares para 6 milhões de hectares. Mas o consumo não cresceu proporcionalmente porque muitos produtores simplesmente não usam calcário”, pondera Zamberlan.

Para o executivo, as novas recomendações podem dar estabilidade à produção das indústrias ao longo do ano. Atualmente, a demanda está concentrada entre o final da colheita da soja (em maio) e o plantio da safra seguinte (em outubro). Com isso, empregos temporários podem passar a ser permanentes, além de dobrar a capacidade de investimento das empresas – e, com a aquisição de equipamentos, abrir novas vagas.

“Já produzimos, em seis meses, 4,3 milhões de toneladas de calcário no município. O que nos indica que, mantido o ritmo por doze meses, temos capacidade instalada para produzir mais de 8 milhões de toneladas ao ano. Com isso, também podemos projetar que o fluxo de caminhões que é de 800 a mil veículos por dia durante a ‘safra do calcário’, pode chegar a duas mil cargas diárias nos meses de maior demanda”, afirma.

Zamberlan arrisca a dizer que, em cinco anos, a adoção das novas recomendações técnicas pode dobrar a produtividade das lavouras do Rio Grande do Sul. “Se a média do estado é de 50 sacos por hectare, podemos chegar a 100 sem aumentar um hectare de lavoura. Isso aumenta a arrecadação em todos os níveis e, principalmente, a renda e a qualidade de vida dos produtores”.

Apesar de todo o impacto financeiro negativo acumulado pelos anos de estiagem seguidos pela catástrofe climática, o representante da indústria avalia que o principal risco para a concretização dessas projeções é a desinformação. “Mais grave que a falta de financiamento, é a falta de informação e a carência de um espírito gregário, da busca de ajuda e orientação que pode retardar esse reflexo positivo na cidade”.

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