Ivan, quando era pequeno, queria muito ter um carrinho que viu numa vitrine da loja do centro da sua cidade. Sua mãe dissera que não tinha condições de lhe dar, porque estavam com muitas despesas. Levou tempo, quando chegou da escola, num pacote que estava em cima da sua cama, abriu e, para sua surpresa, estava ali o carrinho igual ao que viu na vitrine.
Rosa era uma mulher muito determinada, explicou ao filho: «Tu lembras quando estava fazendo aquelas encomendas da Dona Rita? Pois é, isso resultou no teu carrinho. Cuida bem, meu filho, que custou caro e a mãe não pode toda hora comprar outro.»
Essa era a lembrança do presente mais bonito que teve na sua infância, que marcou a vida de Ivan.
Agora homem crescido, barba na cara, morando sozinho, trabalhando junto ao escritório como auxiliar de serviços gerais, vida corrida, orçamento puxado, mas tinha um passatempo: colecionar carrinhos de vários modelos e cores, no estilo daquele que Dona Rosa lhe presenteou quando pequeno.
O lugar que eles ocupavam no seu apartamento era especial, tinha várias prateleiras, iluminado à noite com luz de led. Quem visitava Ivan perguntava de onde surgiu aquele desejo de ter sua coleção. Já tinha a explicação completa de como começou este desejo de juntar aquela quantidade de carrinhos.
Aproximava-se o Natal, diferente de muitos, Ivan já não comemorava como antes. Dona Rosa já tinha partido há alguns anos, filho único, os tios moravam noutra cidade, o máximo que fazia era ligar para desejar boas festas. E, na noite de Natal, assistir à programação da televisão e pedir que a data passasse o mais rápido possível.
Isso mexia com emoções suas profundas, pois sua mãe fazia um bolo de frutas, uma carne assada, salada e um arroz branco, que era servido numa mesa caprichada. E para sobremesa, doce de figo em calda e pudim de leite. Nem era por presente, sempre compravam uma lembrancinha, era o momento em que aquela pequena família se reunia e fazia uma prece sempre à meia-noite.
Ivan, no fundo, perdera aquele costume, se fechou literalmente para as festas natalinas, não tinha feito ainda sua família e aquilo não fazia mais sentido. Só preservou um costume para lembrar a mãe, comprar mais um carrinho para sua coleção e o que era na véspera de Natal tinha significado especial.
Foi à loja, corre-corre, filas imensas, ele com o carrinho especial para sua coleção. Paga no caixa pede para presente e vai passar antes no mercado e depois se entoca em casa, esperando o tempo passar para que o Natal virasse para o dia 26 de dezembro. E aí o clima seria outro nas festas de ano novo.
Sinaleira fecha uma fila de carros, pessoal nervoso, uns começam a buzinar. Nisso, uma batida na janela do seu carro. Olha, um menino de uns oito anos, olhar profundo com um papel escrito em letras grandes: – Me ajude a realizar meu sonho, quero ganhar um carrinho de Natal!
Aquilo mexeu fundo em Ivan, foi nas suas memórias quando parou na frente daquela vitrine e pediu insistentemente à sua mãe e ela dissera que não podia. Num ato quase não pensado, Ivan abaixa o vidro do carro e diz: – Hoje tu estás realizando teu sonho! Feliz Natal! Entrega o pacote ao menino, ele sorri e senta na calçada para abrir o pacote e festeja com o carrinho que ganhou.
Isso emociona Ivan, que teve de arrancar o carro porque estava trancando o trânsito. Chega em casa, olha sua coleção, lembra que o carrinho que comprou acabou de entregar ao menino, sorri. Liga para uma padaria, pede que façam um bolo de frutas, se tem doce de figos, encomenda um assado e pudim, pede para entregarem em casa. Arruma a mesa, faz uma prece, quase meia-noite, faz a ceia sozinho, agradece por tantas dádivas ter recebido na vida, lembra-se da sua mãe.
E este foi o primeiro de muitos em que Ivan se reconciliou com o verdadeiro espírito do Natal, que é a fraternidade e as ligações deixadas por sua família! Agora incorporou um novo hábito, nos natais seguintes, não compra só um carrinho, são vários que distribui a meninos, como forma de realizar mais sonhos, assim como um dia no sacrifício sua mãe Rosa o dera de presente.