O Renascimento

Colunistas Geral

Dizem que nascemos uma vez só, mas para Suzana agora era a época do seu renascimento. Com 37 anos, casou-se com Wagner aos 24 anos, mas três anos antes do namoro, não sabia a vida sem estar casada ou namorando.
E nisso deslanchou sua carreira. Era uma mulher empreendedora, tinha uma loja de vestuário, passou dificuldades como todos nos tempos sombrios da pandemia. Conseguiu se reinventar com as portas fechadas e com as vendas através de lives. E, após este período delicado vivido por todos, mantinha suas vendas tradicionais em sua loja física e fazia duas vezes por mês vendas online. Onde os descontos e suas peças únicas eram vendidos em poucos minutos, em que duas horas faturaram a venda de um mês de sua loja.
E a atividade profissional de Suzana estava repercutindo no seu lar, o marido Wagner era dono de uma loja de materiais de construção, uma das mais bem situadas na sua cidade. Mas seu faturamento, que antes era o pilar de sua casa, nem se comparava ao que Suzana estava ganhando. Isso, embora não fosse motivo de brigas entre o casal, mas de alguns desentendimentos, pois a falta de compreensão do esposo em entender agora as vendas online e o tempo maior que era dedicado por Suzana, já que o negócio estava se expandindo virtualmente. E eram pequenas cobranças, uma em especial: que ela não teria mais tempo para o único filho dos dois, Josué, de 4 anos. O que não era verdade. Suzana tinha toda uma estrutura para isso.
Mas aquele março foi derradeiro, como Suzana atrasou para pegar o menino na escola e pediu para Wagner buscar, este alegou que não podia, tinha uma entrega grande de materiais da loja e se socorreu à sua mãe, Maria, que logo pegou o neto. Quando chegou em casa, rendeu uma discussão séria entre o casal, que jamais haviam tido, que culminou como sendo o ponto final daquela união.
E isso trouxe de uma conversa franca que tivera antes com sua mãe, Maria, que a aconselhou:

– Filha, casamento é para sermos felizes, embora tenha seus altos e baixos. Vejo que tu te esforças de todo jeito para dar conta tanto do Wagner como do Josué e concordo contigo, não tem motivo para ficar presa a uma relação que não tem reconhecimento e nem apoio mútuo. Ela somente olhou para a mãe, emocionada, concordando e sentindo que era isso mesmo.
Suzana não se casou para se separar, mas sabia que estava realmente faltando ali: amor, cuidado recíproco, essencial para a firmeza de uma relação. Já que ele nem disfarçava sua insatisfação por ela estar feliz com o crescimento em seus negócios. Diferente da atitude dela, quando ele estava melhorando sua loja, Suzana apoiou dando força, sugestões em tudo e ajudou ainda dedicando seu tempo.
Passados os trâmites do divórcio, decidido como ficariam as visitas e a guarda do filho, a partilha dos bens. Infelizmente, a relação após a separação dos dois nunca mais foi a mesma, não que não quisesse diálogo, a intransigência de Vagner mudou todo o cenário e havia feridas ali que só o tempo curaria.
Suzana via, com toda a insegurança que sentia ao mesmo tempo, uma nova fase de vida. Mas, o que mais ela ouvia até de estranhos: «Tu estás diferente».
E uma conversa em particular com uma antiga vendedora, a qual estava fazendo uma reunião de compras para sua loja: – Olhando para ti agora, parece que tu renasceu! Tem muito brilho no teu olhar!
Suzana responde: – Passei por muitas coisas nos últimos tempos e realmente acho que renasci mesmo para a vida. E melhor, nem consigo disfarçar isso.
E ela exclamou: – É o amor!
Suzana responde: – Não, estou separada e nem cogito outro homem na minha vida agora, a não ser que não venha com um monte de cobranças. É algo mais profundo que estou vivendo no presente. Um amor que tenho pela minha vida, inclusive a tudo a que me dedico de corpo e alma, com maior liberdade!
E ali se findou aquela reunião de trabalho, saiu dali, foi fazer mais uma live da loja, depois pegou o filho na escola, fez o jantar para os dois, assistiram ao filme que já haviam se programado. Colocou Josué para dormir, olhou o movimento das ruas pela janela do apartamento e parou um tempo lendo um livro, ao qual adormeceu com um cansaço bom de quem estava se sentindo cheia de vida. E isso também não é renascer?

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