Na cidade de Monte Azul, com cerca de 20 mil habitantes, existia uma cafeteria tradicional há mais de 40 anos. O lugar se localizava no centro da cidade, na rua central. Talvez quem passasse correndo nem reparasse, mas especialmente às 7h da manhã e a partir das 16h, aquilo fervilhava de gente. Havia filas na rua, é impossível não prestar atenção, eram jovens ou uns no auge dos seus 70 anos esperando para pegar seu café. Tudo organizado em duas filas para o café que não tinha mistério: forte ou suave (café preto) ou com leite, cappuccino e mocaccino, na segunda máquina.
Os filhos dos antigos donos, falecidos há uns 10 anos, assumiram o negócio, que sofreu algumas adaptações: copos recicláveis térmicos, para não servir nas antigas xícaras de louça que vinham com o nome escrito da cafeteria. Então, economizaram na mão de obra para lavar as pilhas que eram de xícaras utilizadas diariamente.
E, para quem quisesse um acompanhamento, havia a terceira fila: sonho com doce de leite ou creme, pastel folhado de frango ou de carne. Tudo bem simples, mas única aquela experiência que aquele lugar proporciona e os clientes eram cativos de segunda a sábado.
Pouca gente se sentava nas mesas, o costume era pegar seu café, um doce ou salgado e sair tomando e comendo rua afora, já que era como o nome dizia: expresso e rápido a ser servido! Além do sabor característico daquele café, o cheiro que impregnava a quadra quando as máquinas moíam os grãos e ia passando os litros na hora.
Terça, um dos dias de maior movimento, Mauro, um dos donos, operava uma das máquinas de café que se vê em apuros, mais de 20 pessoas na fila e o equipamento emperra do nada. A segunda máquina só servia café com leite, cappuccino e mocaccino. Se dissesse que não tinha café preto, seria um baita prejuízo, é o que mais tem saída, seja o suave ou o forte. Chama a Lúcia, sua irmã e sócia no negócio da família: – O que fazemos?
Ela responde:
– Segure as pontas um pouco que peço para o José trazer lá do depósito a antiga
máquina do pai, lembra? Tomara que ainda funcione!
Tentando manter a calma, avisou o pessoal da fila:
– Um pequeno contratempo hoje, pessoal, acalmem que em seguida saem os cafés!
Já instalada com a presteza de José, que ainda conferiu e deu boa limpada, encheram-se dos grãos, da água, ligaram na tomada e apertaram o botão e nada de passar café.
Lúcia alerta o irmão: – Lembra-se do pai? Quando isso acontecia, ele dava uma batida na máquina e ela voltava à ativa.
– Sim, claro! Foi por isso que compramos a outra. Vou tentar!
E o equipamento começou a funcionar. Bom, naquela tarde, a velha máquina de café de Seu João e Dona Vânia serviu mais 120 cafés expressos.
No final, fechando o caixa do dia, Lúcia e Mauro se olharam sem acreditar que foi a melhor venda daquele mês. E conversando entre eles, disseram:
– Devem ser o pai e a mãe que nos ajudaram! Porque, quase 10 anos desativada e servindo um café elogiado por várias pessoas, nem essa nossa máquina nova fez tanto sucesso. O que tu achas, Mauro, vamos deixá-la na ativa?
Ele responde:
– Claro, Lúcia! Este café da máquina antiga tem outro sabor. Sabe, me emocionei várias vezes com a máquina do pai a toda. E parecia que a mãe estava ali no caixa, recebendo de todo mundo como nos velhos tempos!
A Cafeteria Expresso segue o mais rápido possível, servindo mais cafés que antes, tendo filas e mais filas. Se modernizou, isso os antigos clientes notam, mas o toque antigo era o elemento que trouxe novamente mais sucesso à dupla de irmãos. Diziam: “Este é o nosso amuleto da sorte e o segredo do sucesso do nosso café expresso: a máquina de café do nosso pai”.