O caminho

Colunistas Geral

Havia algo na vida de Paula que não havia conseguido realizar: cumprir uma promessa e aquilo, de certa forma, a incomodava. Há um certo tempo, prometeu fazer uma caminhada, nada de cunho realmente religioso, mas que tinha um significado grande interno para ela. Tinha programado, mas coisas inesperadas aconteceram e não pôde, deixou então no tempo e tudo se ajeitasse para seguir aquela rota.
Seu trabalho era exaustivo, com muitas atividades. Tentava vislumbrar um feriado que fosse com clima favorável e estivesse bem de saúde para iniciar e terminar sua caminhada. A última vez que fizera foi anos antes, isso mexeu com portas internas, questões suas emocionais afloraram naquele curto caminho que era aproximadamente vinte e quatro quilômetros, estrada de chão batido. Naquela vez, foi acompanhada de seu amigo Rodrigo, que a aconselhou a reduzir a velocidade nos primeiros quilômetros. Foram conversando. Mas conforme o tempo passava, a estrada se tornava mais distante da chegada. Fazendo assim as pernas fraquejarem.
Ali havia uma certa ligação com o interno, além do que se propôs, avaliações suas de vida, lições que tivera, coisas que almejava, obstáculos que havia conseguido passar e outros que ainda precisava de forças. E, de certa forma, aquele caminho, com um marco em sua chegada, uma pequena gruta, a fazia ter ânimo renovado e, no fundo, lhe dava respostas sobre a vida.
Nos últimos quilômetros, parecia tão distante da chegada e a vontade era grande de desistir e não cumprir seu objetivo. Na rota final, não sabia ao certo, mas uma força inimaginável trouxe mais firmeza em seus passos e, conforme se aproximou do ponto de chegada, ficou tomada de uma emoção, aflorando um choro constante e inexplicável. Só cessando diante do local que marcou como seu objetivo. Com algo mais marcante, diante de uma situação que entendia como pertinente, prometeu a si mesma que, depois de certas questões suas, voltaria a percorrer aquela mesma caminhada.
E nessa fase se encontrava Paula, na ânsia de fazer pela segunda vez a mesma rota, sabendo o quanto difícil foi a primeira, numa forma de entender o tempo passado, as lutas que enfrentou, o propósito desta segunda caminhada e, no fundo, este reencontro consigo mesma.
Paula, ainda sem discernir se faria o amigo Rodrigo percorrer novamente com ela o mesmo caminho ou se iria só. Mas sua alma necessitava disso, cumprir o que estabeleceu a si, vencer aqueles quilômetros, renovar sua força, mesmo sabendo o quanto era desgastante aquela caminhada.
Não, ela havia mudado, coisas se passaram, talvez nem o caminho lhe desse as mesmas respostas e fosse tão desafiador ou até também lhe trouxesse muito mais desafios que a primeira vez. Tudo seria algo a ser redescoberto nesta segunda empreitada, mas quando seria? Nada estava se ajeitando de fato para isso. Quando o clima estava bom, mais ameno, ela não tinha tempo para nada. Noutra ocasião, era ela que estava resfriada e não conseguia dar muitos passos. Noutro, estava vendendo saúde, mas o céu resolveu não, descendo uma enxurrada.
E, aí, Paula resolveu falar com seu amigo de caminhada, tirar um conselho, já que fazia meses que havia prometido para si que cumpriria seu caminho e que iria de fato resolver isso. Rodrigo a aconselhou: – Paula, aquele caminho já percorri várias vezes. Pensa assim: Ele sempre estará lá. Tu tens que saber que só poderás percorrê-lo quando de fato tudo se ajeitar. Sossega, não é quando tu quiseres! É quando o caminho quiser que tu o percorra novamente.
O conselho do amigo foi alentador. Porque não era falta de vontade. Parou de se cobrar quanto à promessa, deixou que o caminho se abrisse novamente. E, quando menos esperar, ele será vencido novamente! Enquanto isso, Paula foi viver sua vida!

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *