Circo Hilário’s

Colunistas Geral

Aquele circo estava na terceira geração, já havia passado por vários estados e cidades. O comprometimento era com a alegria. Viveram tempos de auge em que as sessões eram lotadas, tendo que fazer horas extras para comportar tanta gente que ia assistir aos espetáculos.
O comando agora estava a cargo de Manuel Oliveira, que era casado com Regina e tiveram Suelen, Silvio e Simone. As gurias se encantaram desde pequenas pelas acrobacias, Regina passava trabalho, que volta e meia tinha que subir e tirar elas de onde se penduravam, já o irmão era fascinado pelo globo da morte. E, quando teve autorização do pai, entrou para o grupo de motoqueiros que voavam dentro daquele globo.
Mas, o ponto alto do Circo Hilário’s era o show dos palhaços. Manuel era o chefe da trupe e ali a brincadeira se concentrava no picadeiro com muita farinha, torta na cara, roupa que se via rasgada e gargalhadas da plateia em geral.
Os tempos presentes eram outros, a família estava passando trabalho, os espetáculos estavam esvaziando. E, ao mesmo tempo, os ajudantes não conseguiam ter sustento somente com a bilheteria.
Chegou o dia em que Manuel resolveu fazer uma reunião familiar, para ver a viabilidade de ir tocando o negócio ou encerrar em definitivo as atividades. A decisão envolvia anos em que aquele empreendimento era conduzido. Os filhos sabiam bem das dificuldades; até para estudar era complicado, mudando sempre e, ao mesmo tempo. Embora tivessem no sangue marcado pelo espírito circense, entendiam que as contas não fechavam.
Marcado o último espetáculo do circo, anunciado a todos daquela cidade, que foi escolhido a dedo por Seu Manuel, pois o local era onde seu avô iniciou as atividades da família. No dia da apresentação de malabares, acrobacias, contorcionismo, a hora mais que especial com o globo da morte. Por fim, o ponto alto, o show de palhaços. Na plateia lotada, muita pipoca, balões e maçã do amor sendo vendidos.
Baixou a cortina pela última vez do espetáculo, uma família circense agora teria residência fixa, cada um dos demais integrantes da trupe seguiu seu rumo. Passou o tempo, a neta Maria de Seu Manuel veio da escola com uma proposta. A Professora Dalva descobriu que a família dela foi proprietária de um circo que fechou. E propôs que, se gostariam, no dia das crianças fizessem um espetáculo simples aos alunos.
Aquilo foi como um acender da luz e, mesmo com receio, Seu Manuel aceitou.
No dia, a escola estava lotada, muitos dos hilários presentes, shows com malabaristas, o mágico, sem acrobacias aéreas, mas ainda com destreza no chão, e o ponto forte dos palhaços fazendo arte. Na plateia tinha uma senhora, Dona Ângela, que ficou encantada com o show. Falou com a professora Dalva, que pediu o contato de Seu Manuel e fez uma proposta: se quisessem, no próximo aniversário do neto Augusto, seriam contratados. Foi um sucesso.
Um dia após uma apresentação, o avô fala para a neta:

-Maria, o vô não tinha mais esperança de voltar ao circo! Nossa família é pura alegria novamente! O vô está muito feliz! Como há anos não me sentia assim!
Agora sem a lona do circo, o picadeiro seguia os espetáculos reformulados. Porque, no fundo, a família Hilário’s nunca perdeu o seu espírito circense!

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