Colocar a comunidade no centro do desenvolvimento turístico. Esse é um dos grandes objetivos do Fronte(i)ra – Festival Binacional de Enogastronomia, segundo Santiago Vieira, coordenador executivo da Mesa Binacional de Turismo. Para tanto, além de garantir acesso gratuito às mais de 100 atrações que serão reunidas de 06 a 09 de agosto no Parque Internacional, foi realizada uma programação oficial de aquecimento.
Durante o final de semana, aconteceram diversos city tours comunitários e uma visita especial à Associação Remanescente de Quilombo Ibicuí da Armada. “Estas iniciativas são, em minha opinião pessoal, algumas das mais bonitas de todo o Festival, pois colocam a comunidade no centro do debate turístico. Promovem contatos que valorizam os saberes e o modo de vida ancestral de todos nós, fronteiriços e latino-americanos”, afirmou.
Os city tours comunitários, gratuitos, permitiram que a população de Sant’Ana do Livramento e Rivera pudesse visitar atrativos aos quais, normalmente passam despercebidos na paisagem urbana. As visitas incluem trajetos pelas duas cidades, destacando aspectos históricos e arquitetônicos, que são determinantes na cultura fronteiriça.
Na segunda-feira, 04 de agosto, será a vez dos trabalhadores de empreendimentos turísticos. Eles serão guiados em passeios especiais, pensados para integrar o setor e permitir que atendentes, frentistas, camareiras e outros colaboradores do setor vivam e conheçam as experiências de enoturismo que atraem tantos turistas à Fronteira da Paz.
Alguns grupos visitaram o lado brasileiro, e percorreram a Ferradura dos Vinhedos (que incluiu visitas às vinícolas Cordilheira de Sant’Ana e Almadén). Já os turistas que participaram do city tour por Rivera concluíram o passeio nas vinícolas Cerro Chapéu e Viña 636.
Visita abre novas possibilidades de Conexão Ancestral
A trilha de desenvolvimento socioeconômico que os moradores da comunidade Ibicuí da Armada percorrem, ganhou novas possibilidades de caminho. A primeira experiência de turismo receptivo foi feita no sábado, 02 de agosto, dentro do projeto Conexão Ancestral – uma das novidades do 9º Fronte(i)ra.
Esta comunidade remanescente de quilombo, reconhecida pela Fundação Cultural Palmares em 2009, tem atualmente 65 famílias (38 residindo no território) que vivem da pecuária de corte e da ovinocultura. Eles possuem muita experiência com o artesanato em lã e estão a ponto de inaugurar uma agroindústria para a produção de mel.
Mas a possibilidade de abrir as portas da sede da associação para a visita de turistas começou a surgir a partir de uma provocação da organização do Festival. A presidente da associação, Maria Leci Vieira, explicou que o almoço organizado no sábado permitirá que a comunidade tenha elementos para avaliar o turismo com uma das rotas viáveis de geração de renda e valorização da cultura.
“Tudo sempre foi muito difícil para quem vive aqui. Eu estou há 26 anos trabalhando junto com a comunidade e acredito que uma das maiores conquistas que tivemos foi levar água para as casas. Foi muita luta, até conseguirmos perfurar os três poços que nos abastecem hoje”, conta ela, que se emociona ao lembrar de alguns dos fundadores da associação.
Segundo Leci, a possibilidade de abrir mensalmente a comunidade para receber turistas pode ser vantajosa, valorizando a culinária e os produtos locais. “Precisamos, agora, sentar com a comunidade e com a Emater, que nos apoia em todas as nossas ações, e analisar se vamos realmente fazer isso e de que forma”.
