Oficina aconteceu durante essa quinta-feira, no 9º Fronte(i)ra – Festival Binacional de Enogastronomia
“Não adianta a sinhá ter a receita se não sabe fazer o doce”, afirma Noris Leal, diretora do Museu do Doce de Pelotas, durante oficina, realizada nessa quinta-feira, 07 de agosto, no 9º Fronte(i)ra – Festival Binacional de Enogastronomia, em Santana do Livramento–Rivera.
Ligado à UFPel, o Museu trabalha para valorizar os saberes invisibilizados, como os das mulheres negras ou escravizadas, que eram as verdadeiras responsáveis pela confecção dos doces. “Elas que sabiam quando se colocavam os ingredientes ou o ponto da calda, por exemplo”. Embora as receitas venham de Portugal, o reconhecimento como patrimônio cultural imaterial, em 2018, refere-se aos saberes e fazeres tradicionais, que incluem técnicas e ingredientes trazidos por africanos, como o coco e especiarias.
Noris também destaca que Pelotas é a cidade do interior gaúcho com mais casas de matriz africana, o que influenciou direta ou indiretamente os doces usados em oferendas, como quindins, cocadas, doces de figo e camafeus. Até o tempo de preparo varia conforme os rituais, como no doce de laranja, que em geral fica de sete a 14 dias de molho para retirar a acidez, mas pode ficar mais tempo dependendo do orixá, porque é o tempo que o orixá assim exige, e isso vai mudando a receita.
A oficina teve ainda participação do chef André Fonseca (Senac Pelotas), com uma releitura do tradicional quindim. Na Fenadoce deste ano foram vendidos 1,8 milhão de doces.
Para a curadora do Fronte(i)ra, Jussara Dutra, a exposição da experiência de patrimonialização dos saberes e fazeres culinários dentro do evento é muito relevante. Ela lembra que o Brasil, através do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), já tem uma trajetória em um percurso que o Uruguai começa a percorrer. “Ter isso como uma política pública é fundamental para garantir a preservação de características de autenticidade que são extremamente valorizadas pelo turismo, por exemplo”.
Obra será lançada na II Feira Binacional do Livro
O Museu do Doce de Pelotas também vem resgatando receitas, porque os modos de fazer são historicamente passados de forma oral de geração a geração, especialmente pelas mulheres negras e periféricas. “Só a elite tinha cadernos de receita”, lembra Noris. E, também, porque cada vez menos se faz doce em casa.
O Livro de Receitas do Museu do Doce de Pelotas, com 132 receitas coletadas de forma participativa entre visitantes de uma exposição, será lançado hoje, às 18h30, na II Feira Binacional do Livro. A seção de autógrafos acontece no Auditório da Feira do Livro. O download está disponível via link na bio do Instagram do Museu (@museudodoce).
foto: Fernanda Toledo / Ozafilms


