Luz do dia

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Aquele apartamento era bem localizado. Estratégico para tudo que envolvia a vida agitada de Isabela. Não era grande, nem considerado pequeno. Ficava no sexto andar do prédio. Um incômodo constante, seu quarto tinha pouca iluminação. Sentia falta dos raios do sol. Havia, sim, uma pequena sacada. No quarto da Isabela, que tinha uma decoração simples, mas aconchegante, queria poder abrir e colocar uma janela, pois era um local pouco iluminado. Para que, quando despertasse, viesse à luz do dia invadir aquele ambiente.
Trabalhando em um supermercado como atendente de caixa, a vida era corrida. Nem nas reuniões de condomínio conseguia comparecer, para tentar falar que precisava fazer este ajuste simples no seu apartamento. Na verdade, sabia que seria muito difícil ter esta autorização. E já estava pensando até em fazer sua mudança. Porque seu sonho de fato era morar numa pequena casa, que fosse iluminada, tendo jardim e local para ficar ao sol num final de tarde.
Morando sozinha, pela facilidade e segurança do prédio, ali ainda se tornava mais viável e até financeiramente. Não teve jeito, tentou falar com o síndico, levar seu pedido para poder colocar a janela. E, infelizmente, depois da reunião, não foi autorizada a reforma de colocar a janela. Isabela ficou muito frustrada. Antes, quando vivia com sua família em uma casa ampla no interior, sabia bem o quanto fazia bem o lugar ser arejado e ter a luz do dia em todos os ambientes.
Passou o tempo, com sua rotina, ela se acomodou com a situação e nem tinha vontade de mudar ou até fazer qualquer melhoria interna no seu apartamento. Foi quando, atendendo no supermercado, ouviu sem querer a conversa de duas clientes, que estava sendo desocupada uma casa pequena, ali próximo, porque a família tinha mudado para outra cidade. No meio do assunto, pediu para deixarem o contato do dono do imóvel.
No dia de sua folga, agendou uma visita sem compromisso para ver a casa. Quando o dono chegou, Seu Roberto foi logo pedindo desculpas, que ainda não estava totalmente pintada. Explicando que os inquilinos saíram às pressas e deixaram um pintor encarregado que estava dando os retoques para devolver o imóvel.
Com cinco cômodos, sendo: sala, varanda, banheiro, cozinha e quarto. Na tarde em que foi ver o sol, estava forte e a casa parecia iluminada com a luz do dia. Uma bancada na cozinha, sonho antigo dela, e nos fundos, local bom para estender as roupas, tomado de verde das plantas e árvores. E tinha algo que encantou Isabela: janelas amplas em todos os ambientes.
Aí surgiu um problema: o valor do aluguel era trinta por cento maior do que o apartamento que ela alugava, ainda queria caução ou um fiador. E isso foi angustiando Isabela, que fugia completamente do seu orçamento. Ficou de dar a resposta até a próxima sexta. Embora fosse fato, teria que dizer um não, visto que o valor do aluguel ultrapassava seu orçamento apertado com o que ganhava no supermercado.
Já conformada com a situação, chegou o dia de dar o retorno ao Seu Roberto, que seria negativo. Nisso, no seu trabalho, a chefe de seu supermercado a chama em separado, achou que fosse algum ajuste no seu turno. Na conversa, foi dito que ela era uma funcionária antiga e o mercado estava passando por reformulações. Por fim, uma proposta: se ela aceitaria passar para ser supervisora dos caixas, a qual ganharia vinte por cento a mais que na sua função atual. É lógico que Isabela aceitou no ato. Mas ainda não dava para custear o alugar o imóvel e, sua amiga e colega Silvia, a aconselhou:

-Oferece a este senhor o que tu podes pagar! Vá que tu consegues o teu sonho! Morar nessa casa!
Mesmo com receio, Isabela mandou uma mensagem com sua contraproposta explicando a situação ao Seu Roberto. Voltou no fim do dia para seu apartamento, fez sua janta, sentou na frente da televisão e a angústia aumentava, pois ele não dava retorno.
Foi se arrumar para dormir, olhou para seu quarto, que era a parte que mais a deixava infeliz, e se conformou com a situação. Adormeceu e, quando menos esperou, veio uma mensagem no celular. Era o retorno do Seu Roberto, que aceitava sua oferta.
Isabela nem dormiu direito. Após quinze dias morando na casa nova. Sua maior alegria nos dias de sol era a luz do dia invadindo todos os ambientes. E, no fundo, aquela mudança estava iluminando de fato a nova etapa de sua vida!

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