Portas fechadas

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José Henrique era um homem bem apessoado, marcava boa presença quando chegava em qualquer lugar. Embora de fisionomia bem comum, andava de forma firme e adorava, volta e meia, andar pilchado. Isso seguiu a tradição de seu pai, Venâncio, que lhe passou esse costume.
Homem de pouca conversa, vivia sozinho, não tinha se casado e nem queria de fato essa vida. Focado nos negócios da família, muito trabalhador, bem-quisto pelos seus amigos e família. Um outro costume que herdou de seu velho pai era tomar mate, e isso era sozinho; não gostava de companhia, dizia que pensava melhor nos rumos da sua vida.
Mas, naquela vida, havia um mistério, coisa que só sua mãe, Maria da Glória, sabia bem e guardou esse segredo a sete chaves, indo com ela para o túmulo. Morreu cedo, quando José Henrique nem tinha ido servir o quartel; aquilo abalou a família e pouco se falava sobre isso. O pai, embora presente, era bem exigente com José Henrique e superaram, da forma que puderam, aquela perda repentina, num dos jeitos talvez mais complicados de enfrentar uma dor deste nível: não falar mais nesse assunto.
Já com seus passados quarenta anos, homem feito e cheio de seus costumes, tinha uma vida pacata e sem muito luxo, cultuando algumas tradições. Depois desta perda da mãe, agora há pouco também foi a vez de seu pai, Venâncio, partir desta terra. E isso foi talvez trazendo mais isolamento a José Henrique.
Um certo dia, sua tia e madrinha Eulália, preocupada com os rumos da vida do sobrinho e afilhado, foi fazer uma visita, daquelas que vão além do social. Com delicadeza, mas diligente, resolveu entrar em assuntos tidos como difíceis demais naquela família. Coisas que não queriam mais ser faladas e, no sentido de despertar uma nova forma de atitude do afilhado para a vida.
E assim ela começou: — Filho, vejo a solidão no teu olhar! Isso não é bom. Tu ainda és um homem novo. Já perdeu teu pai e mãe. Vai viver a tua vida!
E despediu-se dando a bênção igual à que sua mãe dava nele. Isso mexeu com José Henrique, olhou aquela imensidão de campo que cuidava com esmero, caminhou em todas as peças da casa grande. E sentou na porta dos fundos para ver o pôr do sol e tomou seu mate, lembrando quando a casa vivia cheia e sua mãe e tia estavam na cozinha. E, como há muito tempo não fazia, chorou sozinho naquela tarde.
Como toda a lágrima, que, no tempo certo, pode vir a germinar algo bom. Pegou o carro e foi retribuir a visita à madrinha. Ela, atenta, já sabia que o afilhado queria lhe falar algo. Foi à cozinha, preparou um mate e sentaram a tarde toda para uma conversa mais franca. Foi que José Henrique revelou algo à madrinha, coisa que passou e só sua mãe sabia, que aquilo lhe impedia de seguir sua vida da forma como havia planejado. A madrinha só lhe abraçou e disse novamente: — Filho, o tempo cura tudo. Deixa marcas, mas passa. Te digo novamente o que tua mãe diria: vai viver a tua vida!
As palavras da madrinha fizeram José Henrique mudar o rumo da sua vida, que não foi de uma hora para outra. O passado ficou enterrado e novos horizontes surgiram no seu caminho.

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