Mauro tinha um vizinho com uma pequena propriedade. Seu Luiz era um homem trabalhador, vivia em torno da família. Mauro era um grande proprietário de terras. E não achava possível aquele vizinho ir tão bem com somente aquela quantidade de campo.
Luiz sempre passava e dava bom dia para o vizinho, que nem respondia direito. Focado na família, nas vendas dos cultivos e em pagar suas contas, nem tinha como saber como andava a vida de Mauro.
Este, por sinal, só olhava o capricho da pequena propriedade de Luiz. Mas, insatisfeito, apareceu no vizinho se oferecendo para comprar e pagar até além do que valia. Luiz recusou a oferta e até já estava achando falta de respeito tamanho insistência do vizinho.
E nessa época de colheita, os hectares de Mauro, que eram o triplo de Luiz, foram de mal a pior. Teve até prejuízo, pois foi uma pequena colheita. E isso encheu o vizinho de ira.
Um dia os dois se encontraram numa venda lindeira da propriedade dos dois. E já muito incomodado com as charadas do vizinho Luiz, numa provocação, respondeu:
— Olha, Mauro, eu cuido da minha vida! Não tenho tempo de cuidar da tua e nem de nenhum vizinho. Se precisar, eu ajudo!
E Mauro continuou:
— Eu só disse: como pode tu, com aquela pouca quantidade de terra, ter colhido tanto!
E aí Luiz arrematou:
— Mauro, o problema são os teus olhos! Miséria é a vida que tu vives. E se cuidasse da imensa propriedade e trabalhasse de verdade, com certeza tua colheita era muito maior que a minha!
Bom, encerrou o assunto. Pagou a conta e saiu dali. Daqui para adiante a situação mudou, nem mais bom dia existia entre os dois vizinhos.
Passaram-se anos, por obra do destino Mauro literalmente quebrou e teve de vender sua propriedade e outras pessoas foram morar naquele local. O problema não era a colheita ser pequena e, sim, o olhar de Mauro ir além do que realmente tinha que cuidar. E isso Luiz disse à sua esposa quando o tempo terminou com aquele litígio.
No fundo, Mauro havia plantado muita discórdia e sua pequena colheita era reflexo da vida que vivia e o resultado veio a ele no seu tempo devido.


