José Augusto cresceu meio revoltado, culpava sua família, sentia-se injustiçado e tinha uma história de vida sofrida. Seu trabalho era bom e mantinha sua vida pessoal numa certa ordem. Geralmente, quando seus amigos chegavam perto, a conversa era sempre a mesma. Queria sempre mais, nada estava suficientemente bom. E ele era boa pessoa, ajudava muita gente, só era visível que era muito ambicioso.
Certo dia, saiu para esfriar a cabeça com um grupo de amigos de sempre. Eles confidenciando seus sonhos. E José Augusto dando sua opinião, que achava pouca coisa, que eles tinham que pensar mais alto.
Saindo dali já meio alto pegou seu carro, andou umas quadras sem condição de dirigir mais, resolveu encostar e tirar um cochilo para passar a bebedeira. O Sol raiou, acordou e viu que estava quase na porta de uma padaria e pensou em tomar um café bem reforçado. E logo voltou para tomar o rumo da sua casa.
Quando se deparou com um senhor catando latinhas e este pediu um trocado para completar seu café. Mesmo sem querer, só tinha notas altas em sua carteira, deu um valor considerável. E se tocou que esqueceu o celular na padaria e achou que tinha tido um enorme prejuízo. Pois o modelo não era um simples, era um dos últimos lançamentos, dito como mais moderno, além de praticamente toda sua vida estar armazenado ali.
E, retornou à padaria, a moça que o atendeu estava sorrindo e com o aparelho nas mãos, dizendo que estava tentando achá-lo para justamente devolver. Mas,viu algo que lhe chamou atenção, mais que no fundo recuperar seu aparelho de telefone.
O homem que havia lhe pedido dinheiro para o café estava dando o valor para uma senhora que tinha uma criança de colo e estava justificando o moço do caixa que não passava seu cartão. E, com isso, ficou sem ter que pagar seu café. E, logo perguntou: — Porque tu fez isso?
E, o Senhor respondeu a ele:
— O moço, a vida me ensinou que se eu for generoso e viver dentro da minha realidade, nada vai me faltar. Porque a aparência engana, nossa essência fica para sempre!
E logo que falou isso, um outro homem se aproximou dos dois e disse:
— Meu senhor, vi seu gesto de generosidade, pode sentar ali, teu café completo está pago!
Isso ainda não impactou José Augusto, saiu daquela padaria apenas mexido da sua forma de ver a vida. Depois disso, algo mais grave aconteceu: numa dessas noites, ele não parou com o carro para descansar. E, foram meses sem poder trabalhar, sua vida mudou de padrão, teve de depender de pessoas para voltar a se recuperar. E, diante dessa sucessão de situações neste sentido, mostrando no fundo que ele estava preso a muita aparência e ostentação sem medidas, José Augusto teve que olhar a vida com outros olhos.
Quando pode retornar às saídas com os amigos, os assuntos seus não eram mais os mesmos, nem eles o reconheciam. Ele precisava deste choque da vida, já que estava conectado a elementos fúteis que faziam a sua vida ficar rasa; passou a ser um homem mais realista.
José Augusto agora plenamente recuperado, um dia passando na frente daquela padaria, resolveu chegar ali e tomar um café; a esperança era ver aquele senhor novamente. E, para sua surpresa, ele estava na fila, ainda era visível que catava latinhas, aproximou-se e se ofereceu para pagar o café e eles conversarem. O papo foi longe, ele estava um homem mudado, mais centrado e, na saída, esse senhor disse para ele:
— José, não se esqueça de que tudo que passamos é aprendizado. Tu não me
perguntaste por que levo esta vida? Sempre fala muito de ti. Um dia emendamos essa conversa, só posso te dizer que levo essa vida, tem um motivo. Mas isso fica para outro café. E se despediram.
O local era igual, mas a vida deu voltas que ele jamais entenderia, mas necessárias para, no fundo, ele se tornar num homem melhor.


