Cristóvão era um monge antigo, líder de um monastério que era deslocado do centro fervente daquela cidade. Ali tinha vinte e oito discípulos que se dividiam nas atividades monásticas, que seriam: oração, estudo e trabalho.
O Abade Cristóvão era um ser calmo, transmitia paz a quem falava com ele. Mas, nos seus tempos de juventude, essa não era a sua realidade. Quem o conheceu antes de entrar para o mosteiro era um homem violento, envolvia-se até em brigas que não eram suas e seu comportamento e gênio explosivo lhe renderam muitos dissabores.
O mosteiro inspirava uma atmosfera de felicidade e paz e, chegou um novo candidato a discípulo. Davi foi para sua apresentação ao Abade Cristóvão e o Monge Gilberto levou-o. Chegando ao escritório do Abade, ele disse:
— Seja bem-vindo! Serão mostrados seus aposentos. Depois o monge Gilberto passará suas obrigações no mosteiro e os horários das meditações diárias.
Davi se sentia perdido, vinha com muita revolta, havia passado por uma situação difícil pessoal e a forma que entendeu que poderia tentar superar isso era se isolar dentro de um mosteiro.
Na verdade, não tinha nenhuma vocação para ser monge; sua vida era voltada a um centro urbano grande, envolvia-se em vários negócios com cifras inimagináveis. Houve um grande desfalque dentro da empresa em que trabalhava, que foi à falência. E, por obras do destino, escapou por um triz para não ver seu nome envolvido nos verdadeiros culpados da quebradeira.
Isso fez ele olhar a vida de outra forma e querendo estar quilômetros de distância daquele mundo que era envolto a negociatas. Igualmente, como aprendiz, ele teria um tempo para se adaptar ao Mosteiro e retornar à sua vida de origem ou seguir os votos e viver a vida monástica.
Numa certa tarde, passeando nos jardins do mosteiro, o Abade encontra Davi, arrumando plantas do jardim. Os dois ainda não tinham tido uma conversa profunda. O monge Cristóvão fez algumas perguntas a Davi sobre sua vida, por que escolheu ir para aquele local, e Davi naquela tarde abriu seu coração. Falando de suas certezas e incertezas quanto ao futuro. Que estava gostando do local, mas ao mesmo tempo sentia saudade de sua vida. E ao final o monge deu um conselho ao seu aprendiz:
— Diante de uma decisão difícil de vida, que é a escolha para um futuro. Devemos, meu jovem, respirar fundo, meditar alguns dias e a vida te encarrega de responder teu anseio!
E se despediu e seguiu seu caminho. Davi tentou seguir o conselho do Mestre, embora cético, não tinha certeza da resposta que queria. Naquela semana tinha que ir à cidade buscar mantimentos para o Mosteiro e junto com o Monge Pedro.
Este, ao contrário dos outros, era falante demais, não parou de contar sua vida, suas experiências como monge até chegar na cidade. E num local onde foram comprar artigos para pintura de algumas peças, deparou-se com um antigo colega de trabalho, o Felipe, e este logo reconheceu Davi. E não acreditou que ele estava para seguir a vida de monge. E logo falou bem sincero:
— O cara, acho que tu vai dar um tiro no pé! O nosso antigo chefe foi parar na cadeia, estou numa empresa concorrente que me contratou e o pessoal só fala de ti. Diziam que só tu poderias tocar o novo empreendimento, que eras um cara de confiança. Toma meu número, se mudar de ideia, o emprego é teu e sabe, salário bom, estabilidade e local só com gente bacana.
E se despediram. Na volta, ele nem ouvia as histórias do Monge Pedro, só lembrava da fala de Felipe e do conselho do Abade Cristóvão. Passaram mais uns dias, foi ao escritório do Abade e este, com um sorriso no rosto, semblante calmo, antes dele falar, já disse:
— A vida te deu a resposta que tu precisava! E, qual sua decisão final?
Seis meses depois, Davi estava trabalhando, bem engajado; quando sentia falta, ia visitar o pessoal do Mosteiro e conversar com o Abade. No fundo, não se tornou Monge, mas,sendo aprendiz, aprendeu a respeitar aquele homem muito sábio!
