O último mate na Pitangueira!

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Sérgio é o terceiro de uma família de cinco irmãos: Sandra, Suzana, Sindival e Suelen. Foram todos criados no meio rural, pelos pais Seu Severino e Dona Úrsula. A propriedade, cerca de uns dez hectares, era pequena, havia alguma plantação, criavam galinhas e porcos, uma vaca de leite, a Mimosa e um cavalo para lida no campo. A casa era de material, com árvores em torno, um arvoredo, com pés de bergamota, pitanga, laranja e limão. 
Seu pai tinha um costume, depois da lida, pegava o rádio a pilha, cevava um mate, não tinha térmica, era chaleira, esquentava a água e ia para ver o pôr do sol, nos dias de céu claro, sentado no seu banco, embaixo daquela pitangueira. Enquanto isso, Úrsula terminava sua janta. 
Geralmente, a mãe de Sérgio fazia a melhor refeição no jantar, saía daquele fogão à lenha: uma galinha com arroz, salada de alface e tomate colhidos da sua horta temperados com os limões do pátio. E já mandava uma das gurias espremer uns para um suco bem gelado, servidos nas canecas de alumínio para enfeitar seu jantar.
Que só era superado quando era dia de feijão novo, com pele de porco, arroz com linguiça e tinham de sobremesa figada morna com leite bem gelado tirado de manhã da Mimosa.
A infância de Sérgio e seus irmãos foram regados a isto, mas chegou o tempo em que sua barba estava crescendo e foi chamado pelo alistamento do Exército. Foi ao Batalhão para as inspeções de costume, que teria duas decisões, em que era aceito para servir ou dispensado do serviço militar e voltava para casa dos pais.
Não teve opção, foi chamado ao serviço militar e sua rotina agora era outra. No seu primeiro retorno à casa paterna, de coturnos, roupa militar, cabelo e barba feita, chega à porteira, avista seu Velho, embaixo da Pitangueira, tomando mate e ouvindo seu rádio. O pai, ao vê-lo, diz: – Guri, o que fizeram contigo? Raspou teu bigode, tradição da nossa família. Tu estás magro igual a um palito. E nem cabelo tem mais nessa cabeça? Vai lá dentro e pede para tua mãe reforçar a janta. Nos dias em que ficar aqui, vai ter que melhorar esta cara. 
O filho ficou rindo, entendeu que era brincadeira do pai e pediu: «Antes me serve um mate, que estou com saudades de ti e do nosso canto do chimarrão.» E ali seguiram até o sol cair e a Suzana gritar que a janta estava pronta. Uma mandioca atolada, com carne de porco, feijão novo com linguiça, saladas que a mãe fez da sua horta e claro o bom suco de limão. Hoje, como era uma noite especial, tinha creme de ovos, servidos com doce de pêssego de sobremesa.
Resultado da comilança, Sérgio dormiu que nem viu o galo cantar. Acordou perto do almoço, no fundo, saudades dos mimos dos pais, ver seus irmãos, diferente da vida puxada que estava levando no Exército.
Embora um ano servindo, nunca tinha aprendido tanta coisa, mas por melhor que fosse a comida feita no Batalhão, nada se comparava à Dona Úrsula e aos mates servidos pelo seu pai.
Volta ao Exército, uma ligação urgente, vai atender, fala com seus superiores, pede dispensa, algo aconteceu, seu velho pai se fora, chega à propriedade, tudo parecia triste, olha para pitangueira, sol se pondo, banco vazio, era hora do chimarrão.
Sérgio segue carreira militar, quando folga vai ver sua mãe, ainda a comida é farta e acolhedora, mas no banco embaixo da Pitangueira ninguém toma mais mate ali, ali é a cadeira do pai. 
Numa destas visitas olha, seus irmãos se emocionam, uma luz ao entardecer ilumina o banco e eles entendem, é seu velho pai dizendo: «Filhos, estou bem.» «E daqui sigo ajudando vocês e a mãe, fiquem tranquilos». Retorna a casa, Suzana chama que a mãe colocou a janta. Sérgio diz aos irmãos: «Ninguém toca naquela Pitangueira!» «Aquele banco sempre será do último mate do nosso pai!»

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