Em um mundo onde o rigor do bom e velho jornalismo está totalmente de joelhos perante a indústria do entretenimento, os noticiários precisam de heróis e vilões de novela. Assim fica mais fácil simplificar conceitos, falsear dilemas e propor idéias simples e enganosas para questões mais complexas. Cansados dos vilões de sempre, os jornais e emissoras europeias precisam criar personagens novos. Sai de cena o vilão Bashar Al-Assad e seu conflito que se arrasta há oito anos, e entra um governante de um país tropical que diz coisas incômodas. Empossado no cargo há apenas oito meses, Jair Bolsonaro é o novo e grande vilão do ambientalismo mundial. Mas será mesmo que a roupa de malfeitor cai bem ao Brasil no contexto da realidade concreta?
O mocinho da história é o jovem Emanuel Macron, da França, que quer rasgar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia sob o pretexto de salvar o mundo do cruel desmatador da Amazônia. O fato de o fim deste acordo ser o sonho dourado dos pecuaristas franceses e europeus de modo geral, é apenas um detalhe. E em nome desse bem maior vale tudo, inclusive compartilhar imagens antigas de queimadas em florestas, e até uma foto aqui do nosso Rio Grande. Pra um pessoal que ainda acha que a capital do Brasil é Buenos Aires, nada a surpreender.
O problema com essa narrativa é que tentar colocar o produtor brasileiro, empresarial ou familiar, no centro da vilania ambiental não se sustenta. O Brasil tornou-se talvez a nação mais competitiva e eficaz do planeta na produção de alimentos, em apenas 220 milhões de hectares destinados à pecuária e 62 milhões para as lavouras. Os 463 milhões de hectares referentes à Amazônia Legal, sim, tem problemas a ser resolvidos. Mas é rematado exagero vilanizar um país que produz 207 milhões de grãos para 206 milhões de habitantes – mais que uma tonelada por pessoa – e que, justamente pela grandeza desta produção, tem um lugar todo especial na discussão da paz do mundo, cujos maiores entraves hoje são os conflitos provocados pela fome.
Não, senhores. O Brasil não é o vilão dessa história. Seu papel pode muito bem ser o de herói, tanto por proteger sua floresta mais do que qualquer um dos países que o criticam, quanto por produzir uma quantidade de alimentos capaz de abrir um ciclo de estabilidade e paz duradoura no mundo.
Tarso Francisco Pires Teixeira
Superintendente do Incra no Rio Grande do Sul