Fazia tempo que havia sido desativado. Foi o motivo por que havia muita madeira comercializada naquele local e o transporte por caminhões era difícil. E resolveram fazer uma linha férrea, já que era muito alto e descendo as colinas a paisagem era linda.
Formou-se um vilarejo forte, tinha um pequeno comércio, escola, muito movimento, tudo em volta da extração de madeira e o trem que servia de transporte às pessoas irem à cidade mais próxima era usado principalmente para levar madeira para o centro maior. E isso seguiu por décadas, até acharem que o preço e o custo do transporte estavam sendo lucrativos. O dono da extração achou ponto melhor noutro Estado e migrou com todos os funcionários.
Aos poucos o lugar se tornou ermo, quem conheceu nos tempos de movimento sabia o quão triste era ver a realidade do lugar, lindo, mas sem vida. Porque saiu o apito do trem, as pessoas correndo, as madeiras sendo carregadas, o vaivém desenfreado.
O lugar passou a ser chamado de «Vila Fantasma», pouquíssimas famílias se animavam a ir lá, o acesso era restrito e foi perdendo as atrações e vida que tinha quando aquilo estava no auge.
Sérgio, um aventureiro, fazia trilhas, gostava de desvendar o país de norte a sul, sabia e frequentava não os locais ditos de turismo, mas rotas obscuras, aquelas que poucos se arriscavam enfrentar. Ele e sua esposa, Tânia, já tinham ido do Oiapoque ao Chuí, fora do país, tinham planos mil. E, fazia uns quatro anos desde que se aposentaram, deixaram o apartamento na capital, iam lá de três a seis meses e o resto estrada afora.
Um amigo em comum, Adalberto, indica a rota, disse: «Tu vais gostar, tem um trem abandonado, uma história linda por trás daquela «Vila Fantasma» e tudo que movimentava as pessoas ali cerca de uns 20 anos atrás.»
Umas quatro horas de viagem, trilha bem complicada, sem achar que o GPS pegasse, nem por satélite direito, chegam e dão de frente um vale espetacular de tirar o fôlego: rochas, floresta, casas vazias, uma pequena estação e um trem abandonado. Só tinha uma pequena pousada, um mercado e duas lancherias que resistiam naquele lugar e poucos moradores. O amigo ainda preveniu: – Leva combustível, porque se faltar não tem nada de postos há quilômetros.
Tânia ficou maravilhada! De todos os locais que foram, este tinha uma atmosfera diferente de tudo. Parecia que algo puxava e fazia-os quererem ficar mais ali.
Conversa entre as pessoas que moravam ali diziam que sentiam falta do agito, nem que fosse para turismo, que até teve gente interessada, mas ninguém puxou de frente para reacender e colocar o trem na ativa novamente.
Sérgio disse: Estamos de passagem por aqui, Tânia, mas vamos dar os primeiros passos. Ligaram para amigos, fizeram alguns contatos, mandaram fotos, disseram das possibilidades evidentes de reacender o local como ponto turístico sustentável. E, ainda, o mais difícil é achar alguém que colocasse aquela locomotiva na ativa novamente.
Foi uma saga, seis meses passados, o primeiro passeio, Sérgio e Tânia a postos, mais gente no vilarejo, o batismo: Trem da Vila Fantasma. Isso se tornou um up ali, voltaram investidores, começou a ter vida naquelas colinas, o apito do trem alegrava todos quando chegava e partia. Hora de Sérgio e Tânia partirem, a nova estação. Eles não sabiam, mas deixaram um pouco da sua marca naquele local: o Espírito de Aventura!