Banho de chuva

Colunistas Geral

Ester trabalhava como assistente de um grande escritório responsável por várias construções de edifícios em sua cidade. Rotina frenética acordava às 06 horas da manhã, fazia um lanche rápido, dava comida para Oscar, seu gato, dizia para ele: “A mãe vai sair para trabalhar à tardinha, estou em casa.”
Enfrentava o trânsito, acessava sua conta de WhatsApp e e-mails, levando consigo sua garrafa d’água bem gelada. Pausa somente de trinta minutos para almoço, a empresa era organizada, tinha refeitório no terceiro andar, geralmente o mesmo pedido: uma salada, grelhado, arroz e suco de laranja. Voltava correndo para a sala. A Chefe Madalena era exigente, engenheira experiente, fazia vistoria nos prédios que construíam, para ver se estava tudo em ordem.
Após sair às 19h, logo Ester ia para a academia, já levava a roupa para o trabalho, treino de sempre: esteira, fortalecer os braços e pernas, alguns abdominais com suas músicas preferidas nos fones de ouvido em alto volume. Na saída, passava no mercado, abastecia o que precisava em casa, chegava, fazia a janta para ela e Oscar e depois olhavam as notícias, a novela ou o filme.
Quinta-feira, sol escaldante, aquele verão estava sendo dos bravos, se pudesse tomar três banhos por dia. Iniciou toda sua rotina, até chegar o período da meia-tarde para um convite diferenciado. Sua chefe, Madalena, a convoca para irem vistoriar um prédio ainda em fase de acabamento, doze andares no centro de sua cidade. Ingressaram no prédio, uma vista linda da cidade, a chefe mandando-a anotar o que verificava errado e com o Mestre de Obras. Aquilo levou mais de uma hora e muitas anotações. Terminando a vistoria, Madalena fez um convite a Ester:

-Olha, tem uma sorveteria duas quadras daqui. Pedimos ao Luis, motorista, que nos espere que vamos tomar um sorvete, que o calor está insuportável.
Feliz com o convite, aceita e vão a pé à sorveteria, ali era o paraíso do sorvete, difícil de escolher pelos vários sabores. Pediram um cascão, com uma bola gigante com direito a calda e confeitos. Resolveram não sentar, pois o salão estava lotado, o tempo urgia e a Chefe ainda tinha muito trabalho que esperava no escritório, fora o Luis que estava no carro esperando.
Nisso, metade do caminho, o céu fica preto, parecendo que iria cair uma bomba d’água, soprando um vento forte, e elas estavam tomando ainda o sorvete e apurando o passo. Começa uma chuva daquelas, os sorvetes derretendo, elas tentando fugir e acabaram levando um banho de chuva. Resumo as duas rindo sem parar, a formalidade do trabalho foi lavada com água da chuva, sorvete escorrendo nas mãos. Luis, quando viu as duas, não sabia nem o que fazer ou dizer. E a Chefe fala mais que imediatamente: – Tu não queres se juntar a nós? Acho que desde meus doze anos não tomava um banho de chuva destes!
Ester, de alma lavada, parecia que as toneladas de compromissos saíram de cima dela. Agora, quando vem uma tormenta, desce no hall de seu prédio, o porteiro Augusto nem repara, deixa uma toalha de banho e as pessoas só ficam olhando. Ester fica dando voltas, tomando um demorado banho de chuva, até ficar toda encharcada. Depois chega em casa, recebida por Oscar, que não entende nada quando a mãe entra sorrindo e toda molhada em casa.
E finaliza dizendo para ele: – Uma pena, Oscar, tu não sabes o que estás perdendo, meu filho! Como é bom um banho de chuva!
Mas isso é coisa que só os donos de gatos sabem que água não é muito apreciada por estes peludos.

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