Alberto sabia percorrer aquela trilha de olhos fechados, já tinha levado muitas pessoas para ficar um tempo observando o entardecer. Dali se tinha uma vista espetacular. Aquele mirante era de tirar o fôlego. Não era tão fácil chegar lá, mas tudo que é extraordinário geralmente tem um caminho difícil.
Nesse grupo, que no máximo tinha seis pessoas. Hoje, Sandra, Gustavo, Inês e João. Estavam cheios de expectativa pela caminhada em mata fechada, que durou cerca de quarenta minutos. Bom ter na mochila poucas coisas: um repelente, água, uma blusa leve e outra bermuda, algo para comer, umas barras de cereal, um energético, maçã, banana e alguns sacos de biscoitos salgados, para dar fôlego extra.
O foco era total de chegar ao entardecer, mirar o sol se pondo e ainda dar um mergulho na cachoeira que era bem posicionada.
O local tinha setas sinalizando, avisos para que não deixassem lixo espalhado, respeitando assim o meio ambiente, e que não era muito recomendado pernoitar. Os moradores noturnos, ocasionalmente, apareciam umas cobras e alguns lagartos. Só os que fossem muito acostumados tinham coragem de enfrentar um acampamento noturno, já que alguns trilheiros já haviam passado apuros.
Mas tudo que vale a pena não é assim, tem dificuldade, desafio e muita persistência no caminho. Todos marinheiros de primeira viagem: Sandra, que trabalhava como atendente de uma loja de celulares, Gustavo, que atuava na área interna de um banco, Inês, que atendia o público em uma lotérica, e João, que era oficial de justiça.
O que tinha em comum naquelas vidas era que viviam focados no trabalho e em estresse constante. A caminhada em uma trilha, nem que fosse num final de tarde, e a oportunidade de banho em uma cachoeira, era tudo que queriam para sair de suas vidas atribuladas e cheias de compromissos.
Amigos há mais de dez anos, sabiam quase tudo da vida um do outro. Ali, só quem era além de amigos e namorava era João e Sandra, Gustavo e Inês, apenas amigos.
O caminho estava seguindo o programa feito por Alberto, a turma estava focada em seguir as orientações feitas. Numa distração, Inês escorregou, foi como se fosse um escorregador, os demais desceram trilha abaixo. E voou mochila e tudo que estavam levando, só pararam quando se meteram num mar de lama. Graças a Deus, todo mundo estava inteiro, que o susto foi grande, tirando uns arranhões, corpo dolorido, mas coberto pela lama e folhas das árvores secas que se viram no caminho.
Para não perder o clima o mais debochado do grupo, João convocou os demais:
– Olha, gente, dos males o menor, diz que lama é bom para pele! Descendo na cachoeira, a gente se limpa.
Antes disso, Sandra fez alguns registros do grupo em estado de miséria, só com lama no corpo. Mais um tempo de caminhada, Alberto, agora mais atento que nunca, recomendou o dobro para se cuidarem onde pisavam e não acontecer mais nenhum susto com este grupo.
Última quebrada e o grupo todo já moído do escorrega coletivo, Gustavo já querendo dar meia volta e nisso lá está ela: majestosa, em meio às luzes do final de tarde, uma piscina ao ar livre, com um mirante que beirava o infinito. Aí todos pararam até de falar, só admirando aquela beleza toda.
Alberto, mais que imediatamente, convoca o pessoal do grupo:
– Olha, temos uma hora de banho e para tirar fotos, depois anoitece. Bora, pessoal,
vamos tirar essa lama do corpo! Bom, passados dias, Inês, com as fotos do grupo, postou na sua rede social, dizendo: “Era um passeio comum e virou uma aventura daquelas.” “Nossa turma da lama ao Paraíso.” ” Eita, aventura que vai ficar para a história!”
Os demais só concordaram, pois jamais fizeram algo parecido. João, por fim, junta uma foto que o pessoal do grupo não tinha, era uma que continha um dizer de um trilheiro que deixou lá numa pedra ao lado da cachoeira:
“Só não sabe o que é uma aventura, quem nunca se arriscou a buscar por ela.”
E que aventura esse grupo teve!