Projeto de vida

Colunistas Geral

Parecia que o mundo andava contra os planos de Cintia, mudou de emprego, de cidade e nada tomava curso. Quando deu os primeiros passos para realizar essa grande transformação, estava motivada, cheia de gás e de fato concretizando, parece que voltou aos tempos da mesmice.
Num estilo de vida que jamais sonhara para si. Embora estivesse como chamam, “na flor da idade”, trinta e poucos anos, que mania que as pessoas têm de serem invasivas quanto à idade de uma mulher. O que se dedicou a vida toda para almejar e estava traçado como seu projeto de vida saiu pouca coisa do papel.
Dedicada, filha única, de mãe solteira que sabe a educação que teve, queria de alguma forma retribuir o tempo, esforço e carinho de sua mãe. Que agora aposentada, vivia com o salário apertado, mas contava com o apoio da filha para ajudar em algumas despesas que, pelos seus problemas de saúde, não tinha como suportar sozinha.
Por isso, Cintia havia aceitado aquele emprego. Até os quase trinta, morava com sua mãe, não se casou e nem tinha tempo para isso, embora fizesse parte de seus planos, talvez um dia, repartir a vida com um homem decente que realmente tivesse amor verdadeiro por ela.
Cansou de sua mãe dizer como passara dificuldades, que seu pai, quando soube que ela estava grávida, não queria que ela nascesse. E teve de se mudar de cidade para que pudesse ter Cintia com certa tranquilidade e longe daquele homem que mostrara o verdadeiro caráter quando ela contou a notícia.
Isso, de certa forma, refletiu na vida da filha que cresceu com aquele sentimento de rejeição, mas cercada de afeto e carinho de sua mãe que sempre teve uma alma sincera.
Trabalhou em várias profissões: de doméstica, atendente de farmácia, empacotadora de supermercado, cuidadora de idosos, tudo para que a filha tivesse todo o amparo para crescer dentro de um lar simples, mas cercado de afeto e proteção.
Mas, agora o relógio da vida gritava dentro de Cintia, o tempo passava e a sua última escolha de trabalho não estava trazendo aquela satisfação, andava sobrecarregada, entristecida, cheia de coisas para fazer e sem perspectivas do seu futuro, a não ser cuidar de sua mãe que realmente estava muito doente. Foi que se lembrou de que tempos atrás havia visto uma palestra no trabalho que fazia de vendedora de seguros e um dos falantes daquela noite fez uma atividade que a fez refletir o que estava realmente construindo para sua vida.
Mandou que todos da sala pegassem um pedaço de papel de ofício e respondessem de forma sincera a três questões cruciais para a vida deles:

– Como está minha vida presente?

– Qual a vida eu quero para mim e que seja possível de ser alcançada?

– E o que vou fazer para tornar esse sonho em realidade?
Aquilo mexeu com todo seu universo interno. Quando vivemos muito atribulados, o projeto de vida parece que se esvai. Podemos até traçar algo, mas os compromissos e lutas, por vezes, o fazem virar miragem. Talvez até seja inatingível.
O palestrante explicou: – Não coloquem aqui, coisas que somente a sorte pode dar a vocês, como ganharem na Mega Sena ou uma herança de algum parente que seja rico e deixem para vocês. Estou falando de planos que vocês podem construir se tiverem foco, organização e persistência.
Bom, Cintia começou a observar sua vida e ali escreveu coisas que a moviam e faziam, de certa forma, voltar o brilho do olhar perdido, em face das lutas que enfrentava. Num dia bem sobrecarregado, que perdera o contato com tudo que amava fazer, lembrou daquela atividade que fizera e foi numa caixa que deixava alguns documentos seus importantes buscar aquele papel.
O que então ela traçou de errado que estava sem sossego, alegrias, talvez administrando melhor à custa da doença de sua mãe, mas longe de algumas coisas que incluía sua lista. Pois onde teria tempo para conquistar o resto? Foi aí que lembrou do palestrante: “Lembrem, a lista do projeto é apenas algumas propostas para o futuro, quem é dono dela são vocês. Então reescrevam até a vida ficar do jeito que acham para serem felizes de verdade.
Agora esclareceu tudo, faltava ela reescrever, reeditar, reformular a lista, a vida era sua e não presa naquelas palavras projetadas ao seu futuro e partir para a ação de um novo projeto de vida. Foi aí que Cintia passou a reescrever, não no papel, diretamente nos atos que dera no dia seguinte àquela leitura. Demitiu-se do emprego, estava se sentindo pouco amada numa relação que tinha e acabou com aquela situação que não correspondia a um amor de verdade. Voltou para a casa de sua mãe, aceitou a proposta de um amigo de, com a rescisão, fazerem uma loja de cupcakes. Era fascinada por cozinha e doces, tinha uma mania dos chás quentinhos que seus amigos demoravam em descobrir os sabores que fazia um diferencial que aquecia quem a visitava. E fez um cardápio de chás gelados para o verão, assim como incorporou junto uma sorveteria que servia sorvetes coloridos, de diversos sabores, que atraíam muitos clientes. O resultado dessa mudança: sorriso estampado não só no rosto, nos olhos de Cintia, voltou à força de viver. Quanto ao projeto de vida, está em curso no tempo certo da vida, as coisas vão se ajeitando. Enquanto isso, sem ansiedade ou pressa, ela vive os dias livres, vendo seus entardeceres com o coração tranquilo que agora fez o rumo certo para si!

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