Nunca mais banho de bacia!

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Dia quente no mês de julho? Isso era novidade, geralmente é um “frio de renguear cusco” que, se deixasse a ponta do nariz de fora, ficava congelado! Mas, este ano, julho se apresentou assim, parecíamos que estávamos entrando em outubro. Cora saiu correndo de casa, hoje parecia tudo dar errado desde que acordou: entrou no chuveiro, não saía um pingo d’água. Então, para improvisar um banho, colocou duas panelas grandes no fogão com água do filtro e, enquanto aquecia, já preparava o café preto e um pão prensado com margarina. Uma bacia grande e um balde seriam sua primeira salvação do dia! Temperar a água nem tão quente nem tão fria, para um banho “quase de bacia” que serviria para se arrumar e rumar ao serviço. É, a secretária não pode chegar após o chefe. Pegou sua primeira condução, um ônibus, que estava lotado e ela com pastas cheias de trabalho que havia revisado na noite anterior.
Roberto era exigente, principalmente em questão de horário. A história de que faltou água para o banho não seria bem recebida e, mesmo que tivesse que tomar um banho de bacia, teria que ir ao serviço. Mas parecia que a vida resolveu ajudar Cora, enfim, no escritório de Arquitetura, com um pouco de atraso e somente Renata havia chegado. Ela era secretária do outro arquiteto, Arthur. E, para tranquilizá-la, ela disse: – Não te esquenta, Cora! Seu Roberto está atrasado e nem apareceu ainda! Anotei os primeiros telefonemas para ti e está tudo certo! Relaxa!
Cora tocou o dia normal de serviço, tudo correu bem e findou seu turno, hora de retornar para casa. Novamente parecia que a pilha de pastas aumentava e teria que enfrentar dois ônibus até voltar para casa. Como achou muita coisa para se carregar, naquele dia chamou um Uber. Já tinha passado sufoco na ida, no retorno não.
Trajeto concluído, Ronaldo levou pouco tempo entre o escritório e a casa de Cora, que estava exausta, mas feliz por ter água nas torneiras, pensou: “Agora vou tomar um banho decente.”
Deixou o micro-ondas ligado esquentando a sua janta. Tomou banho, secou o cabelo, botou seu pijama, ligou a televisão, sentou na sala de jantar e, após terminar sua refeição, lembrou: “Vou revisar os projetos do Seu Roberto, para ver se tem algum erro gráfico e para assim mandar fazer as cópias em definitivo para reunião.” Mas, aí: Cadê as pastas? Tinha deixado tudo no Uber! E tomara que outro passageiro não tenha pego, eram documentos originais ali, não só cópias, e agora?
Toca a campainha e deduz: É o motorista! Abre a porta correndo, que nada, era a vizinha querendo saber se deixaram alguma encomenda por acaso em casa errada. E ela: – Sim, não tive tempo de te entregar, é dos correios! Despachou a vizinha mais depressa que pôde e foi acessar a plataforma do Uber para saber quem poderia lhe dizer algo. Tenta mandar mensagem e nada, dizia: Serviço indisponível no momento, favor tentar mais tarde!
Pensava: “O que vou dizer? Ou fazer o Seu Roberto é super exigente, até com cópias, não pode ser qualquer lugar que mandamos fazer, tem que ser tudo de confiança. Vou ser demitida, na certa!”
Resumo: Passou “uma noite do cão” sem conseguir retorno do Uber, se arrumou para ir ao escritório e foi completamente desmotivada. Diferente do dia anterior: chegou antes de Renata. Nisto, logo em seguida, entra Seu Roberto apressado, só dá bom dia e diz:

  • Cora, traz os projetos de revisão que preciso deles urgente! Pensei em reformular coisas que planejei ali e fiz modificações no meu note. Mas preciso dos documentos que estão contigo para formalizar isto!
    O coração de Cora batia forte e pensou: “Agora que vou lá, digo que perdi tudo no Uber e estou demitida!”
    Nisto aparece Ronaldo, com as pastas, e se dirige à Cora:
  • Desculpa, moça! Mas creio que isso te pertença. Tivemos uma pane na plataforma e nossa rede caiu toda noite. Não quis entregar à noite em sua casa e achei melhor vir pessoalmente onde havia pego para nossa corrida, no escritório. Pode conferir, tudo conforme deixou no carro!
    Ela responde: – Te agradeço imensamente! Salvou minha vida!
    No final daquela semana de julho, não só o calorão causou estranhamento, a falta d’água, o susto que havia perdido documentos importantes do escritório, o corpo de Cora parecia que carregava uma tonelada, exausta foi tomar um banho e pensou: Vou dormir a tarde toda, só assim para recuperar energia que foi moída por estes dias.
    Vai no chuveiro, nada de água novamente! Se veste, pega todas as suas roupas, xampu e sabonete e sai de casa. A vizinha atende à porta da casa ao lado, é Cora: – Por gentileza, aqui tem água? Gostaria que me emprestasse seu chuveiro, não que estou com trauma de banho de bacia!
    Ela responde: – Claro, Cora! Tenho que te retribuir o favor da minha encomenda! É a segunda porta à direita. Fique à vontade, temos caixa d’água! O banheiro é todo seu!
    E três meses depois mandou instalar sua própria caixa d’água, o pedreiro e o hidráulico não entendiam a alegria de Cora e a sua maior exigência: “Pode funcionar só em uma torneira. Mas o principal, que não falte água no chuveiro, por favor!” Um julho quente daquele ano foi a última vez que Cora teve de tomar banho de bacia. Pegou trauma, porque para ela quase ficou sem emprego, sem saúde e sem paz!
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