Como falar de fronteira, mobilidade humana e interculturalidade para crianças e adolescentes?
Miguela Alvez, advogada e especialista em Direito Migratório, apresentou nessa quinta-feira, 07 de agosto, a imagem do corredor humanitário. A palestra aconteceu durante o 9º Fronteira – Festival Binacional de Enogastronomia, realizado na praça que une Santana do Livramento–Rivera, e se referiu não um corredor que surge apenas em contextos de guerras ou epidemias, mas um território permanente de acolhida, onde migrantes em situação de extrema vulnerabilidade encontram informação e, também, nutrição, abrigo e contenção emocional.
“Qual é o papel da fronteira?”, provocou Miguela. Ela lembrou ao público presente, na maioria estudantes, que nem todas as fronteiras se assemelham à de Livramento–Rivera, reconhecida como Fronteira da Paz. “Temos esse vínculo com a paisagem, com o território e com a binacionalidade. Mas é importante reconhecer que há fronteiras marcadas por conflitos, onde não há convivência harmônica nem reconhecimento da identidade do outro.”
Miguela destacou também a importância do acolhimento aos novos migrantes que chegam à região, como os fluxos recentes de pessoas vindas de Cuba, Venezuela, República Dominicana e Colômbia. “Queremos trabalhar com o público infantil essa ideia: antes de enxergar o outro como um ‘migrante’, alguém nascido fora do território brasileiro ou uruguaio, é preciso vê-lo como pessoa. Uma pessoa que merece respeito, dignidade e oportunidades, independentemente de sua origem nacional, étnico-racial, gênero ou orientação sexual.”
Segundo ela, é fundamental que as crianças compreendam que muitas dessas migrações não são voluntárias. São forçadas por desastres ambientais, crises políticas ou econômicas. Situações complexas, marcadas por profunda vulnerabilidade.
E como nutrir essas relações? Ela defende que uma das formas é pela mesa. “A gastronomia é o lugar do encontro com a memória afetiva. Podemos ter diferenças culturais de todos os tipos, mas a mesa evoca o sentido de lar — a lembrança de uma avó mexendo a panela, de uma mãe preparando a comida — e nos conecta com nossa identidade, cultura e território.” É também ao redor da mesa que se convida o outro a compartilhar — e, muitas vezes, a resolver — desafios comuns, A mesa, diz, é o lugar onde convidamos o outro para compartilhar, as vezes também os problemas, “que geralmente se resolvem aí mesmo, em vínculo de afeto e construção, de proteção”.


