Novembro Azul: Prevenção, Exames e Tratamentos

Caçapava do Sul Destaque Geral Saúde

O urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack destaca as principais informações e dúvidas sobre o câncer de próstata. Este mês, as atenções estarão voltadas ao Novembro Azul, campanha mundial de alerta, prevenção e conscientização para o diagnóstico precoce da doença.

Marcelo Bendhack é Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA), especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e membro do conselho da Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF).

O câncer da próstata é considerado o segundo mais comum na população masculina em todo o mundo. Como é crescente a expectativa de vida na população mundial, as estimativas apontam que o número de casos novos da doença deve aumentar em 60%. Trata-se de uma doença não transmissível, e que tem apresentado aumento no número de casos e mortalidade significativa.

Assintomático, geralmente é diagnosticado em homens acima dos 65 anos. Apenas 1% dos pacientes com 50 anos ou menos recebe o diagnóstico. Por outro lado, cerca de 70% dos pacientes podem ser curados quando o câncer da próstata é descoberto em sua fase inicial.

“A recomendação é que se faça exames preventivos a partir dos 50 anos. Mas para aqueles cujos pais e irmãos já tiveram câncer de próstata e também no caso dos afrodescendentes, a orientação é iniciar os exames de rotina a partir dos 40 anos de idade”, explica o urologista Marcelo Bendhack.

Em 2018, foram diagnosticados no Brasil 68.200 casos de câncer da próstata, 31,7% a mais em relação às demais neoplasias, e 15.391 mortes (dados de 2017), conforme estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva).

Prevenção

Alimentação saudável, prática de atividade física, evitar o excesso de bebidas alcóolicas e o estresse. E não aderir ao tabagismo.

Casos graves da doença estão associados também à obesidade, ao consumo de alimentos com gorduras saturadas e industrializados.

Os exames preventivos são recomendados a partir do 40 ou 50 anos de idade, dependendo das características de cada paciente. Porém, também devem procurar um urologista homens na adolescência, assim como as mulheres recorrem aos ginecologistas.

Paciente em tratamento de câncer e atividade física: deve ser praticada até mesmo por quem está em tratamento de câncer. Pesquisas científicas sugerem benefícios, como diminuição da sensação de fadiga, ansiedade, depressão e melhora a qualidade do sono. Mas é preciso uma avaliação médica criteriosa, sobretudo para exercícios mais intensos, como corrida, ciclismo, natação, remo e levantamento de peso.

Frequência de ejaculações: estudo divulgado pela Associação Europeia de Urologia, com quase 32 mil homens, entre 20 e 49 anos, apontou que a frequência de ejaculações, por masturbação ou relações sexuais, pode proteger a próstata. O efeito anticancerígeno ainda não está muito bem explicado, mas inicialmente foi efetivo para casos de cânceres menos agressivos, porém sem efeito em tumores mais graves.

Exames

Os dois principais e mais conhecidos são o toque retal e o PSA – Antígeno Prostático Específico.

O exame de sangue (PSA) tem segurança de até 70% na identificação de um tumor de próstata. Porém, somado com o exame do toque retal, o índice de segurança pode chegar a 90%. Alguns pacientes podem apresentar PSA normal, mas receber a suspeita de câncer de próstata exclusivamente pelo exame de toque.

A proteína PSA é produzida na próstata e, caso exista um princípio de tumor, normalmente haverá produção maior dessa proteína. O valor de referência para o PSA é até 4, considerado normal. Esse valor pode mudar um pouco em função da idade e do tamanho da próstata do paciente. Acima desse valor, pode ser um sinal de tumor.

O toque retal pode ser realizado antes ou mesmo depois do PSA. A eficiência desse exame ocorre devido à posição anatômica da próstata, que está localizada de forma medial e anterior à região do reto.

O urologista pode pedir ainda exames como ultrassom, ressonância nuclear magnética da próstata e biópsia.

ISUP e Gleason

Após fazer o diagnóstico de um câncer, o próximo passo é tentar entender qual o comportamento da doença. Há tumores que crescem rápido e outros que levam muito tempo (vários anos) para crescer.

O Score de Gleason avalia duas áreas que compõem a maior parte do câncer na região da próstata. Os patologistas atribuem diferentes graus para cada uma das áreas analisadas. Se a pontuação de Gleason é (G)3 + (G)4 = (G)7, significa que a maior parte do tumor é grau 3 e a menor grau 4, tendo como resultado 7, ou seja, equivalente a um nível intermediário do câncer de próstata. O mais alto grau para a pontuação de Gleason é 10.

Já escala da ISUP (International Society of UrologicalPathology) varia de 1 a 5. Os tumores ISUP 1 apresentam crescimento bastante lento e podem requerer tratamento num período posterior. Os ISUP 2 e 3 têm crescimento intermediário e os ISUP 4 e 5 são tumores mais agressivos e têm progressão mais rápida.

Tratamentos

Terapia-alvo: tratamento medicamentoso que se convencionou chamar de medicina personalizada e que tem apresentado bons resultados entre os novos métodos. Ainda são necessários mais estudos para indicação contra o câncer da próstata avançado.

Hifu: o Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade (High Intensity Focused Ultrassound) é uma técnica que aplica energia acústica (ultrassônica) num ponto específico, gerando calor. O procedimento é usado no tratamento do câncer de próstata de baixo e médio risco. Pode ser realizada em casos de recidiva. Concentra os feixes de ultrassom em uma região ocupada por células doentes. Assim, o tratamento pode ser personalizado, de acordo com fatores da doença, do paciente e da próstata.

A técnica evita que estruturas importantes localizadas ao redor da próstata sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas, o que reduz os efeitos colaterais. A duração do procedimento com a Terapia Focal HIFU é mais curto, geralmente entre 30 minutos a 3 horas, e um regresso mais rápido às atividades cotidianas.

Os índices de incontinência urinária ficam entre 0 e 2% e a disfunção erétil em 5 a 7% dos pacientes, quando a aplicação é parcial ou focal. Quando total, o índice é próximo a 26%. Tem baixa taxa de mortalidade doença específica e alto índice de sobrevida livre de metástases após 10 anos. Os índices de morbidade são aceitáveis, em comparação aos demais procedimentos para o câncer de próstata.

Cirurgia: na prostatectomia radical a próstata e as vesículas seminais são totalmente removidas. Indicado quando a doença tem a característica de ser restrita à próstata ou está localmente avançada. Em termos de risco da doença (classificação específica), quanto mais elevado o risco, melhor a indicação para a cirurgia radical. Isto se baseia na perspectiva de cura com o método e sua relação com os efeitos colaterais mais importantes e frequentes, como disfunção erétil e incontinência urinária.

Radioterapia: utiliza raios de alta energia ou partículas para eliminar as células doentes. A radiação modifica o DNA da célula, evitando o crescimento ou divisão das células cancerosas. A longo prazo, o tratamento pode causar disfunção erétil ou problemas urinários e intestinais, incluindo frequência urinária aumentada, dificuldade para urinar, sangue na urina ou incontinência.

Crioterapia: pode ser indicada em casos de doença localizada primária ou recidivada. A técnica utiliza temperaturas extremamente baixas para destruir células cancerígenas na próstata. Para a sua aplicação é necessário introduzir agulhas por via perineal no interior da próstata. Efeitos colaterais de curto prazo podem incluir inchaço na área genital, irritação ao urinar e sangue na urina. Os efeitos secundários de longo prazo são impotência sexual e incontinência urinária. Recorrência local pode ocorrer.

Hormonioterapia: o objetivo é reduzir os níveis de hormônios masculinos (testosterona) no corpo ou impedir a sua ligação a receptores androgênicos nas células prostáticas. Isso porque a testosterona estimula a proliferação das células prostáticas cancerosas. Tratamentos hormonais são muitas vezes utilizados em conjunto com radioterapia ou cirurgia. Pacientes com metástases são tratados inicialmente com hormonioterapia. A terapia hormonal pode aumentar o risco cardiovascular.

Quimioterapia: A quimioterapia é usada mais frequentemente em casos avançados de câncer da próstata, habitualmente em pacientes que não respondem ao tratamento hormonal.

Loading

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *