Professora do curso de Letras da Urcamp fará oficina durante a 29ª Feira do Livro

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A professora Elaine dos Santos, docente do curso de Letras, da Urcamp, que atuou em Caçapava, é a escritora homenageada do dia 23 de maio, na 29ª Feira do Livro. As atividades com ela iniciam a tarde, com a oficina “O professor detentor do conhecimento, é o protagonista em sala de aula”. O encontro será no IEE Dinarte Ribeiro, das 16 às 18 horas.
No texto que segue, Elaine faz uma reflexão sobre a docência: formação, processo educacional e a tarefa de sensibilizar o aluno e levá-lo a entender que o conhecimento representa autonomia para gerenciar os sonhos.
Somos professores (as)!
Quando escolhemos a docência, o exercício diário de entrar em uma sala de aula e partilhar conhecimentos, escolhemos “professar”: reconhecer publicamente, confessar, declarar as ideias/os aprendizados que forjamos durante anos de leitura e estudo que se associam à prática, ao cotidiano de quem, ano após ano, lida com crianças, com adolescentes, com sonhos e com esperanças.
Não caímos de paraquedas em uma escola, o exercício da nossa atividade profissional é resultado de quatro ou cinco anos de frequência a um curso de graduação na área das licenciaturas, fomos, portanto, preparados, instrumentalizados para atuarmos como professores. Estudamos Aristóteles, Rousseau, Montessori, Piaget, inúmeros teóricos que, muito antes de nós, voltaram-se para o processo de ensino e aprendizagem e procuraram, ademais, entender como os seres humanos aprendem, por que aprendem, desenvolvendo métodos variados para propiciar mais conhecimento aos mais jovens, de forma sólida, que lhes garanta autonomia e protagonismo em suas existências. Lemos e lemos muito sobre Psicologia do desenvolvimento, para entender o pensamento daquelas crianças e adolescentes que nos são legados, em sua maioria, fonte de grandes esperanças dos seus familiares. Discutimos ideias sobre Psicologia da educação, formas de abordagem do conhecimento (metodologia e didática), questionamos e aprendemos sobre Filosofia da educação, conhecemos, enfim, os meandros que movem o processo educacional e os seres humanos intimamente “afetados” por tudo isso.
Pautados pela ética, pelos valores morais que nos são inerentes e pelo cabedal teórico que aprendemos, entramos na sala de aula. Antes, porém, dá-se o contato com seres humanos, dotados de medo, de dúvida, de angústias, de sonhos, de crenças e, entre eles, nos movemos cientes que a nossa ação pode (e vai) interferir em suas existências. Temos, diante de nós, filhos, netos, sobrinhos, afilhados de pessoas que, fora da escola, estão trabalhando, esforçando-se para que aquelas crianças e adolescentes possam almejar melhores condições de trabalho, de vida. Temos ciência que, na maioria dos casos, existe um esforço e uma esperança que motivam pais, avós, tios, padrinhos a encaminharem os pequenos para escola, ainda que, oficialmente, a motivação seja do ponto de vista legal.
Preparamos aula, planejamos. Para além do conteúdo a ensinar, engendramos formas de atrair, encantar, sensibilizar o aluno para que conheça, para que saiba mais. Não explicitamos as ideias subjacentes ao ensino de Matemática, por exemplo, e a importância de desenvolver a logicidade; não explicamos que exercitar arte nas aulas de Educação Artística serve para ampliar/qualificar a sensibilidade que deveria ser própria do ser humano. Sabemos que, no conjunto, as crianças e os adolescentes modificar-se-ão; as suas habilidades serão ampliadas; a compreensão ingênua do mundo, muito provavelmente, será substituída por uma visão mais objetiva dos fatos, porque haverá conhecimento – e não apenas preconceito – envolvido na formulação de ideias.
Não somos maus, não somos tendenciosos, não somos doutrinadores – há a família, a igreja, a televisão que podem (e fazem) esse papel. Somos apenas e tão somente profissionais que procuram, sempre que possível, cumprir as suas obrigações da melhor forma possível. Não somos anjos nem demônios, sabemos que erramos e acertamos, sabemos que há uma busca constante por nos corrigir, nos qualificar. E, assim, professamos a esperança que a sociedade nos reconheça como os elementos formadores de cidadãos, de pessoas conscientes, responsáveis. Não nos olvidamos, porém, que a legislação pertinente lembra que a família e a sociedade são corresponsáveis no processo educacional. Por vezes, parece que nos atribuem o compromisso único e solitário pelo processo e, ademais, o ônus das eventuais falhas que venham a ocorrer – alguns esquecem que também trabalhamos para sobreviver em condições de dignidade, que temos família, amores e dissabores. A tarefa seria fácil se, às vezes, a família fosse presença efetiva (em ações, na consolidação de valores morais, por exemplo) e a sociedade, ao invés de nossa algoz, fosse parceira, ensinasse que o conhecimento liberta, empodera, qualifica cidadãos aptos a melhorarem essa mesma sociedade.

Professora Doutora Elaine dos Santos

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