O que está acontecendo com a Embrapa?

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“Há algo de podre no Reino da Dinamarca”, dizia o príncipe Hamlet na célebre peça de mesmo nome, a mais encenada e estudada de todo o mundo. Mais de quatrocentos anos depois de Shakespeare iluminar o pensamento ocidental com este drama repleto de infâmia, corrupção e vingança, muita coisa – muita mesmo – cheira mal no Brasil, como todos sabemos. Mas é muito triste quando o mau cheiro do carguismo e do aparelhamento ideológico contamina a gestão pública a ponto de atingir um dos seus centros de excelência em pesquisa, que deveria permanecer infenso a todas as disputas políticas. Estou falando, senhoras e senhores, da Empresa de Pesquisa Agropecuária, que outrora foi motivo de orgulho nacional, e hoje padece as conseqüências de mais de uma década de mandarinato petista no Poder.
Ao longo de quase quinze anos, quadros partidários foram assumindo funções de liderança em postos-chave para o avanço da pesquisa, seguindo a lógica de aparelhamento e controle do Estado. Servidores de carreira que quisessem ter suas pesquisas aprovadas e suas carreiras reconhecidas, aderiam ao “projeto”. De tal forma isso ocorreu nas mais diversas instâncias de governo, que contaminou o direcionamento de programas, ações e investimentos.
Tomo por exemplo, o caso da Embrapa Clima Temperado, com sede em Pelotas. Com exceção talvez do próprio município-sede, desconhecem-se avanços significativos e ações concretas de desenvolvimento feitas pela instituição ao longo de todos estes anos. O atual comando da instituição, é ainda um remanescente do período Lula-Dilma, que ainda se beneficia do governo que eles próprios rotulam como “golpista”. O quadro descrito por poucos e corajosos servidores é caótico: só progride quem segue a cartilha. Próceres do PT, líderes do MST e outros, são recebidos com honras e tratados com mais deferência do que se o próprio Ministro lá aparecesse. Recursos são investidos somente em ações e programas que seguem o verniz vermelho da ideologia regressista: arroz orgânico da reforma agrária, pecuária familiar e outras peças de marketing ideológico, que não tem valor sequer instrumental para o desenvolvimento das comunidades envolvidas.
A tal ponto chega a situação que servidores de carreira tem que percorrer gabinetes políticos em busca de apoio para poder continuar trabalhando com alguma dignidade, e em defesa da renovação do comando da instituição. Em um país minimamente sério, nossos especialistas estariam construindo alternativas e soluções para o agronegócio brasileiro, cada vez mais competitivo. Entretanto, tem que gastar precioso tempo para preservar suas carreiras e suas biografias.
É necessário que as entidades e forças da sociedade civil vinculadas ao agronegócio examinem atentamente a questão. A Embrapa é um patrimônio dos brasileiros, um orgulho da pesquisa nacional, e deve voltar a ser plenamente de todos os brasileiros, não somente de um projeto ideológico superado pela história e vencido até em tribunais. A Embrapa precisa continuar sendo peça fundamental da estratégia de desenvolvimento pleno do país que queremos.

Tarso Francisco Pires Teixeira
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul

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