Fé e devoção na Festa do Divino: uma entrevista com o padre Rudinei Lasch

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Está acontecendo, em Caçapava do Sul, mais uma edição da tradicional Festa do Divino Espírito Santo, da paróquia Nossa Senhora da Assunção. O evento teve inicio em 31 de março, com a abertura, e a abertura ocorreu na frente da igreja matriz. Já a primeira festa foi no interior do município, na comunidade São Pedro, no Passo do Santa Bárbara, acontecendo no dia 8 de abril.

Abertura da Festa do Divino Espírito Santo no Bom Jardim no sábado, dia 14, às 7h. (Foto: Juliano Porto)

A reportagem do jornal A Palavra Regional e portal CaçapavaOnline conversou com o padre Rudinei Lasch, em uma entrevista bastante explicativa, onde, o pároco contou um pouco mais do aspecto histórico da festa, bem como, trouxe dados importantes aos leitores.

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: Padre, nos conte um pouco da história da Festa do Divino Espírito Santo, em Caçapava.

Padre Rudinei: Segundo fontes históricas sobre a Festa do Divino, pesquisando arquivos da paróquia sobre a festa, encontrei alguns escritos referentes a relevância da festa aqui em Caçapava do Sul.

“A Festa do Divino Espírito Santo ou Festa do Divino, como o povo cristão a denomina com carinho, é a mais antiga das comemorações religiosas de origem portuguesa. Suas raízes datam do século XIV quando a Rainha Isabel de Aragão, mais tarde canonizada Santa Isabel, fez uma promessa ao Divino Espírito Santo. Pedia ela quase o impossível: que seu marido, o Rei Dom Dinis, e seu filho, o Infante Dom Afonso, prestes a estraçalharem Portugal em uma guerra insana pelo poder, abandonassem as armas.

Às vésperas da primeira batalha, pai e filho se reconciliaram e a paz voltou à nação portuguesa. Para agradecer a imensa graça alcançada, a Rainha Isabel fez construir em Alenquer uma igreja consagrada ao Espírito Santo e instituiu grandes festejos populares.

Dois séculos depois, no início da colonização do Brasil, a Festa do Divino atravessou o oceano e enraizou-se em nosso país. Quando da Independência, em 1822, era tamanho o seu prestígio, que o Rio de Janeiro e quase todas as cidades e vilas brasileiras suspendiam suas atividades leigas, no mínimo durante dez dias, para comemorá-la.

Em Caçapava do Sul, o registro oficial mais antigo da Festa do Divino data de maio de 1839 e se encontra nas páginas do jornal “O Povo”. Seguramente, a festa era realizada antes, mas nunca o foi com tanto brilho como naquele ano da instalação da Capital da República Rio-Grandense em nossa cidade. Entre as comemorações relatadas, descreve o jornal farroupilha a Corrida de Cavalhadas, torneio simbólico entre cristãos e mouros, onde participaram figuras históricas da Guerra dos Farrapos.

CAVALHADAS: Corrida de Cavalhadas – Torneio milenar entre mouros e cristãos. Muito anterior à Festa do Divino e a ela incorporada a partir do século XIV, a Corrida de Cavalhadas foi instituída na França por Carlos Magno para comemorar a vitória de seu avô Carlos Martelo na batalha de Poitiers. Nessa batalha, ferida no ano 732, os cristãos bateram os mouros e impediram a invasão de toda a Europa.

A Corrida de Cavalhadas é um espetáculo de teatro a cavalo, de cunho totalmente religioso. Tanto é que, no final do combate simulado, os mouros (vestidos de vermelho) são batizados simbolicamente pelos cristãos (vestidos de azul) diante de uma capela. Em Caçapava do Sul, a Corrida de Cavalhadas sempre fez parte da Festa do Divino e sua tradição documentada existe há mais de um século e meio. Muitas famílias da cidade guardam armas antigas e fotografias em preto e branco, orgulhosas de que seus bisavós foram corredores de Cavalhadas”.

RENASCIMENTO DA FESTA DO DIVINO EM CAÇAPAVA DO SUL: Durante 30 anos, de 1964, a Festa do Divino perdeu muito do seu brilho e quase se extinguiu-se em Caçapava. Em 1994, porém, quatro casais caçapavanos e os padres João Luís Flesch e José da Luz conseguiram entusiasmar os fiéis e a Festa do Divino renasceu com grande entusiasmo popular. Durante dez dias, 13 a 22 de maio de 1994, Caçapava do Sul vestiu-se de vermelho e branco, retomando uma a uma as antigas comemorações do Divino Espírito Santo. No dia 13 de maio, significativamente o dia da libertação dos escravos, foi cravado o mastro com a Bandeira do Divino diante da Igreja Matriz. Eram seis horas da manhã. A população acordou sob os acordes da banda da Brigada Militar, do esponcar de foguetes e do bater dos sinos. O que houve? O que

aconteceu? E a rádio Caçapava informava com entusiasmo: A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO RENASCEU EM CAÇAPAVA DO SUL. (Cf. Folder da Festa do Divino Espírito Santo do ano de 2000).

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: Em sua opinião, qual a importância da festa para a comunidade?

Padre Rudinei: A Festa do Divino Espírito Santo lembra 50 dias após a Páscoa de Jesus Cristo: paixão, morte e ressurreição. Pentecostes é a vinda do Espírito Santo sobre a Comunidade dos Apóstolos, onde Maria estava presente. É o início da igreja com a vinda do Divino Espírito Santo que santifica e dá vida à Igreja.

Por isso, a importância da Festa do Divino Espírito Santo em nossa comunidade de fé. O povo de Caçapava do Sul é muito devoto e acredita na força do Divino. Há uma movimentação grande das Comunidades onde acontecerá a Festa do Divino. As bandeiras visitam as casas, onde são abençoadas junto com as famílias, levando paz, esperança e fé.

Abertura da festa no dia 31 de março na frente da igreja matriz em Caçapava do Sul. (Foto: Juliano Porto)

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: De acordo com seu ponto de vista, como se dá a fé no Divino Espírito Santo?

Padre Rudinei: A fé é renovada com a Festa do Divino. As pessoas acreditam e confiam na ação do Espírito Santo em suas vidas, pois através dos sete dons somos convidados a entregar nossa vida nas mãos de Deus. A Igreja foi fundada pela ação do Divino Espírito Santo. Nós somos batizados pelo Espírito Santo através da Trindade Santa. Por isso, a fé das famílias cresce a cada Festa do Divino.

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: A festa atinge suas expectativas?

Padre Rudinei: Festa do Divino Espírito Santo tem dois objetivos: a religiosidade e os recursos arrecadados. A religiosidade é fortalecida através das missas nas comunidades, visita das bandeiras nas casas para abençoar a família e as novenas na igreja Matriz. Muitos momentos de oração, hinos ao divino, adoração ao santíssimo, bênçãos, devoção popular e participação nos atos de fé. Com relação aos recursos financeiros que são arrecadados na Festa do Divino, destinamos em melhorias na Igreja, no salão paroquial e na vida da paróquia, pois, atendemos 46 capelas na cidade e no interior de Caçapava do Sul. Somos a Paróquia mais extensa em distâncias e número de comunidades da região. Contamos com a colaboração das famílias: nos bingos, jantas, contribuição dos mordomos, das bandeiras que visitam as casas e das festas das comunidades do interior. Sim, a festa atinge a expectativa minha, da paróquia, dos festeiros Cléo e Maria Santos, da comissão de festeiros e do povo católico de Caçapava do Sul.

Primeira festa no interior, na comunidade São Pedro no Passo do Santa Bárbara, aconteceu no dia 8 de abril. (Foto: Juliano Porto)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: Como está a programação deste ano?

Padre Rudinei: A Festa do Divino Espírito Santo de 2018 tem como programação religiosa e festiva: dia 18 de abril, às 20h – bingo do Divino no salão paroquial; dia 29 de abril: Festa do Divino na comunidade São João Batista no Caldeirão; dia 06 de maio: Festa do Divino nas comunidades São Geraldo no Seival e Nossa Senhora das Graças na Picada das Graças. Dia 11 de maio inicia a novena aqui na igreja matriz.

Neste dia, às 19h, procissão com o cortejo do divino, do forte até a Igreja, sendo conduzido pela banda Municipal Doutor Ciro Carlos de Melo. As novenas serão às 19h30min, após, jantares e bingos no salão paroquial. Dia 20, missa festiva de pentecostes, às 10h na igreja matriz. Após, almoço festivo no salão paroquial.

Jornal A Palavra/CaçapavaOnline: Deixe uma mensagem aos nossos leitores.

Padre Rudinei: A festa do Divino Espírito Santo é um momento forte de renovação da fé, do amor e da esperança. Estamos num tempo de muita violência, desentendimento nas famílias, conflitos e vaidades. Peço ao Divino Espírito Santo que derrame sobre as famílias caçapavanas os seus dons, em especial, que “A Paz habite em seus lares”. Participem com fé da Festa do Divino. Que Deus abençoe nossas famílias.

Por Gabriel Haag

Da redação | Grupo A Palavra

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